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Regresso às creches: “Se tivermos medo, o risco está em todo o lado. É preciso confiança”

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Uma semana depois da reabertura das creches em Portugal, muitos pais preferiam manter os filhos em casa, aguardando para avaliar qual o impacto deste regresso na evolução da pandemia. É o o caso de Maria do Céu Silva, que decidiu manter a filha Leonor, de dois anos e oito meses, em casa. “Ainda vamos fazer mais esse esforço”. Já Rita Afonso e João Pereira optaram por reintegrar o filho Francisco, de um ano e meio, na creche em São Domingos de Rana, no concelho de Cascais, e o balanço é positivo. “Temos de assumir o risco e não viver numa bolha e termos medo de tudo o que está à nossa volta”, acredita Rita Afonso.

Por toda a Europa os ritmos de reabertura das escolas têm variado, com as preocupações dos pais a serem, no entanto, muito semelhantes. Aline Moreira, luso-francesa residente na região de Hauts-de Seine, perto de Paris, disse ao PÚBLICO que o peso de conciliar teletrabalho com a filha Mariana, de quatro anos e meio, levou-a, juntamente com o marido, a optar pelo regresso à escola já no dia 28. “Expliquei-lhe que não podia abraçar os amigos e brincar como antes. Espero que não fique traumatizada”. Para já, a turma será dividida em dois grupos que apenas frequentarão a creche duas vezes por semana, com 9 crianças por sala.

Já Basílio Coloma Martínez, residente em Múrcia, Espanha, está numa situação ambígua e ainda não é claro o que os próximos meses reservam para a filha Luna, de dois anos e meio. Até agora a informação é de que as creches em Espanha não voltarão a abrir antes de Setembro, mas tanto ele como a mulher terão de regressar ao trabalho presencial em breve. “Não sei como nos vamos organizar”.

A excepção europeia foi a Suécia, que decidiu nunca fechar as escolas que recebiam crianças até aos 16 anos. Flávio Lapin de Murtinheira é coordenador de uma escola internacional em Estocolmo, e explica ao PÚBLICO o que mudou no dia-a-dia com o novo coronavírus. “Aqui  as recomendações são um pouco mais liberais do que no Sul da Europa”, explica. As indicações do governo sueco eram de que ao mínimo sintoma, “tanto staff como crianças deveriam ficar em casa”. Redução de horário, menos presença dos pais na escola, mais práticas de higiene e segurança e menos visitas de estudo (que, antes da pandemia, aconteciam com muita regularidade todos os meses).

Para Flávio, foi também interessante analisar as diferenças de comportamento dos pais. “A maioria das famílias suecas, locais, no início, entendia que isto era uma gripe normal, mas as famílias sobretudo da Ásia e do Sul da Europa que temos aqui representadas na nossa escola, como têm família nos seus países de origem, tiveram outras perspectivas que não a sueca e acabaram por ficar um pouco mais alarmados e mantiveram as suas crianças em casa desde o início”.

“Uma das avaliações que nós, professores, fizemos foi que nunca tivemos crianças tão saudáveis na escola. Porque antes desta situação do coronavírus, os pais costumavam enviar a criança um pouco constipada, naquele limbo entre estar doente e não estar. Mas uma vez que há estas novas recomendações, de que ao mínimo sinal a criança deve ficar em casa, as crianças que temos tido na escola estão saudáveis e como tal temos praticamente o staff todo a trabalhar, porque não há doenças na escola”, conclui.

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Fonte: Público