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Menos autónomos, mais envelhecidos. Como se comparam os professores portugueses com os de outros países

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Para a grande maioria dos professores portugueses (84%) ensinar foi a sua primeira escolha em termos de carreira. É assim para 67% dos docentes nos países da OCDE e economias participantes no TALIS 2018 — um grande inquérito a professores e directores de escolas. Mas, apesar deste facto, este estudo mostra que em muitos aspectos os docentes portugueses estão mais descontentes do que os colegas de outros países. No que respeita a salários, por exemplo, em Portugal, 9% dos docentes reportam estar satisfeitos com os mesmos, abaixo da média registada na OCDE: 39%.

No Dia Mundial do Professor, que se assinala esta terça-feira, passamos em revista alguns dados deste grande inquérito de 2018. O último volume foi divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico em Setembro deste ano. No total, cerca de 260 mil docentes responderam ao inquérito, representando mais de 8 milhões de docentes em 48 países ou economias participantes. Em Portugal participaram 3676 docentes do 3.º ciclo do ensino básico e os 200 directores das escolas onde esses professores exercem funções.

Ser professor como primeira escolha

Como motivações principais para dar aulas, 94% dos professores em Portugal citam a oportunidade de influenciar o desenvolvimento das crianças e de contribuir para a sociedade; 92% reportam que, de um modo geral, estão satisfeitos com o seu trabalho (média da OCDE: 90%). De resto, 11% dizem que gostariam de deixar de exercer a actividade docente durante os próximos cinco anos (média da OCDE: 25%); e 28% gostariam de mudar para outra escola, caso tal fosse possível (média da OCDE: 20%).

Stress elevado

Em Portugal, 35% dos docentes reportam sentir “muito” stress no trabalho, um valor superior à média da OCDE (18%). Quase metade dos inquiridos nos países membros da OCDE e de economias que participam no TALIS reportam que ter demasiado trabalho administrativo é “até certo ponto” ou “muito” uma fonte de stress no trabalho. Em Portugal, as principais causas apontadas pelos inquiridos para o stress na profissão são “a responsabilidade pelos resultados dos alunos; ter demasiados trabalhos dos alunos para avaliar; e, ter demasiado trabalho administrativo para realizar”.

Autonomia

“A autonomia dos docentes é um factor importante para promover a experimentação em sala de aula”, lê-se na síntese portuguesa do TALIS. “Em Portugal, 47% dos docentes reportam ter controlo sobre a escolha dos conteúdos programáticos, em comparação com o valor médio de 84% registado no conjunto dos países membros da OCDE e economias que participam no TALIS.”

Avaliação

Outra pergunta feita no âmbito do estudo prende-se com a avaliação. “Os sistemas de avaliação de desempenho, utilizados para avaliar formalmente os docentes, incentivam a melhoria contínua das suas práticas de ensino, uma vez que providenciam oportunidades para reconhecer e recompensar os professores pelos seus esforços. Em Portugal, 6% dos docentes estão em escolas onde os directores reportam que os respectivos docentes nunca são formalmente avaliados (valor que, estatisticamente, não é significativamente diferente da média da OCDE, 7%).”

Para a avaliação de desempenho ser eficaz, prossegue a síntese portuguesa, deve conduzir às consequências certas. “Por exemplo, consequências como a indigitação de um orientador/supervisor para apoiar a melhoria das práticas de ensino ou para elaborar um plano de desenvolvimento profissional estão bem alinhadas com a função formativa da avaliação de desempenho. Em Portugal, 72% dos docentes trabalham em escolas onde a elaboração de um plano de desenvolvimento profissional ou de formação contínua é uma ocorrência comum após uma avaliação (média da OCDE: 90%), e 67% dos docentes trabalham em escolas onde a indigitação de um orientador/supervisor é uma ocorrência comum após uma avaliação (média da OCDE: 71%).”

Imagem social

Quanto à forma como a sociedade os vê, os inquiridos não estão optimistas: em Portugal, 9% dos docentes “concordam” ou “concordam absolutamente” com a afirmação de que a sua profissão é valorizada na sociedade, valor inferior à média no conjunto dos países membros da OCDE e economias que participaram no TALIS (26%).

Envelhecimento da classe

Neste estudo de 2018 aponta-se que “em Portugal, em média, os professores têm 49 anos de idade, valor superior à média das idades dos professores dos países da OCDE e das economias que participam no TALIS (44 anos)”. E acrescenta-se: “Assumindo que o número de alunos matriculados se manterá estável, o país terá de renovar cerca de metade do seu pessoal docente durante a próxima década.”​

Formação em pedagogia

Em Portugal, durante a sua formação inicial, 75% dos professores dizem ter recebido formação sobre conteúdos programáticos, pedagogia e prática em sala de aula (percentagem inferior à média dos participantes no TALIS: 79%). Cerca de 60% dos professores relataram não ter participado em qualquer tipo de actividades de integração formal ou informal quando ingressaram na escola onde actualmente exercem funções (valor médio do TALIS: 58%). Entre 91,7 e 93,5% (conforme os níveis de ensino) dos professores portugueses que trabalham em escolas com alguma diversidade étnica e cultural declaram que foi implementada no estabelecimento de ensino onde trabalham formação para ensinar nesse contexto, uma percentagem maior do que a média (entre 81,3 e 79,8%)

Público