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Mais de um terço dos professores não tiveram qualquer formação para a tecnologia nas salas de aula

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Mais de um terço (36%) dos professores não tiveram qualquer formação para o uso da tecnologia nas salas de aula. As conclusões são de um estudo elaborado por dois investigadores da Universidade do Minho (UM), que dá conta de que, apesar de a maioria (86%) dos 2580 inquiridos considerar que o uso do digital é uma prioridade na escola, há uma lacuna grande no processo formativo. Ao PÚBLICO, directores escolares notam a falha na formação do corpo docente para o digital e a respectiva necessidade de investimento.

“O grande destaque tem a ver com a formação de professores, ou com a falta de formação neste caso”, começa por explicar Marco Bento, do Centro de Investigação em Educação (CIEd), do Instituto de Educação da UM, autor do estudo a par de José Alberto Lencastre. “A parte mais fácil seria a da tecnologia, digamos assim, porque compra-se e ela aparece. Mas é preciso saber utilizá-la”, completa.

O investigador acrescenta ainda que o cenário actual nas escolas portuguesas é o de professores e educadores que “usam a tecnologia como sabem ou da forma como pensam ser a mais correcta”. “Isso significa que há aqui uma falha grande do ponto de vista de uma utilização proficiente da tecnologia na educação.”

“Numa primeira fase, em Março de 2020 e passado alguns meses, as carências digitais dos professores foram superadas com o apoio dos colegas de informática, que proporcionaram formação interna aos seus pares e também pelo autodidactismo dos professores”, explica o dirigente escolar, acrescentando que “neste momento, há formação certificada pelos centros de formação aos professores das escolas”.

Contudo, de acordo com o estudo, cerca de 30% dos inquiridos afirma que não frequentou nenhuma formação acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (CCPFC), entre Janeiro de 2020 e Abril de 2021. Enquanto 36% diz não ter tido qualquer formação de todo.

“O facto de muitas escolas portuguesas já possuírem alguma infra-estrutura tecnológica antes da pandemia, mas muita dessa tecnologia não estar a ser utilizada, sendo que 12% dos respondentes afirma que não tem competências adequadas para utilizar a tecnologia nas aulas, reforça a ideia de que é fundamental a aposta na capacitação dos professores. Envolver os professores na tomada de decisão sobre como usar essa tecnologia, costuma ser o caminho de menor resistência e maior sucesso”, pode ler-se no documento.

O relatório sobre o Estado da Tecnologia na Educação 2020/21 está disponível no site da Promethean, uma empresa que se dedica ao comércio de equipamentos tecnológicos para salas de aula, nomeadamente quatros interactivos. O estudo partiu de uma iniciativa global que a empresa lançou em diversos países com o desafio a investigadores que pudessem produzir um estudo idóneo sobre o Estado da Tecnologia na Educação de cada país, como explica o investigador Marco Bento ao PÚBLICO.

Mais de metade dos inquiridos usa tecnologia com frequência

Ainda quanto à utilização da tecnologia, 64% dos inquiridos assegura que se esforça por utilizar a tecnologia com frequência no contexto educativo. Já 21% dos respondentes declara que utiliza a tecnologia de forma competente na sua vida pessoal, mas não sente confiança para a utilizar no contexto educativo. “Mais preocupantes são os 15% que afirmam que não utilizam a tecnologia, ou porque não é fácil fazê-lo ou porque consideram que não é necessária”, alerta o relatório.

Manuel Pereira, presidente da direcção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), refere que “o relatório não tem nada que já não se saiba”. “Nota-se, claramente, a vontade e a necessidade de uma grande parte dos professores em ter formação e que também a maioria acredita que o futuro passa pela utilização da tecnologia na escola”.

O também director do Agrupamento de Escolas de Cinfães ilustra bem o caso: no início deste ano lectivo começaram a ser instalados smart boards naquele estabelecimento de ensino, algo que acabou por se verificar como um veículo motivador para a comunidade escolar. Num processo gradual, os professores tiveram formação, durante o primeiro período lectivo para os conseguirem utilizar. “É importante motivar os alunos, mas também os professores através das novas tecnologias e esse é que é o desafio”, defende.

Smart boards foram a peça chave para motivar

No início deste segundo período, os quadros de giz e de marcadores foram deixados de lado e passaram-se a usar em pleno estes novos smart boards. “As novas tecnologias são um instrumento de trabalho fantástico, mas é preciso que as pessoas sejam formadas para isso e tenham competências que lhes permitam utilizá-las para modificar estratégias de trabalho. É preciso investir na formação”, salienta Manuel Pereira.

O director garante que este é um processo que cria um envolvimento muito superior entre professores, alunos e com as próprias matérias leccionadas. “Estes quadros têm funcionalidades inacreditáveis e o curioso é que têm sido extraordinários para a motivação das duas partes”, desenvolve.

“Ou seja, tenho aqui a prova de que as novas tecnologias podem ser um instrumento fantástico de motivação tanto para professores como para alunos.”

“A escola não pode fugir da realidade onde está integrada e hoje as crianças e jovens vivem em função das tecnologias. A escola tem de ir ao encontro da motivação e dos interesses dos alunos. Portanto, a tecnologia é fundamental, mas especialmente porque trabalhamos com alunos que nasceram com elas e a escola não pode ficar parada no tempo”, remata o director Manuel Pereira.

Público