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Libertem as crianças – Henrique Raposo

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As crianças e os jovens foram e continuam a ser os maiores alvos do medo que se julga dono da responsabilidade cívica e que destrata como “negacionista” qualquer crítica, reparo ou dúvida. Ao longo de ano e meio, a sociedade sacrificou a saúde física e mental de crianças, além do seu futuro escolar, sem olhar para as consequências e sobretudo sem olhar para a ciência. Falou-se tanto de ciência, mas a verdade é que, em muitos pontos, o medo hipocondríaco foi tão negacionista como os negacionistas.

Vale a pena recapitular. Este vírus não é um problema de saúde para as crianças. Não é. Outros vírus, sim, são um problema. E sabem o que aconteceu? As medidas de protecção anticovid levaram a um aumento dos casos provocados por outros vírus, como o VRS. Ao mantermos as crianças numa bolha anticovid, estamos obviamente a desprotegê-las contra todas as outras doenças.

Não ficou provado que as escolas abertas são factor de descontrolo ou controlo da epidemia. No entanto, o medo e a obsessão com o controlo exigiam o fecho. Dizia-se, “É preciso fazer qualquer coisa”. Mas que coisa? A emenda não pode ser pior do que o soneto. Além das escolas, fecharam-se os clubes onde as crianças praticavam desportos. Muitas desistiram entretanto, não voltaram agora em setembro. Ora, qual é o factor mais associado às fragilidades aproveitadas pela covid? Obesidade. Ao cortarmos o desporto durante um ano e meio, contribuímos para o reforço de uma geração que já é demasiado obesa.

E agora chegámos ao final da linha. Aquilo que estamos a viver é um absurdo total que prova como o medo do #ficaremcasa tem o seu próprio negacionismo: as crianças e jovens, as pessoas que não morrem com este vírus e que não são os grandes transmissores, continuam presos na escola (máscara, bolhas), mas os adultos, as pessoas que até podem morrer e que transmitem mais facilmente o vírus, já podem laurear a pevide em discotecas, restaurantes, bares. Que absurdo moral é este? Como é que se pensa tão pouco nas crianças e jovens? Como? Nós não vivemos meio ano debaixo da racionalidade do debate científico, vivemos meio ano debaixo de um manto de medo que impede o debate e o pensamento.

Expresso