Início Educação Violência: O que está a acontecer nas escolas portuguesas?

Violência: O que está a acontecer nas escolas portuguesas?

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16 de Novembro: “Jovem ferido a tiro num joelho numa escola de Loures. Um grupo de 10 indivíduos que tentava juntar-se a um convívio de alunos foi barrado pelos funcionários de uma escola e a resposta foi violenta.”

Alguém ouviu alguma declaração do ministro da Educação sobre este caso? Sim, do ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues. Afinal estamos a falar de tiros numa escola. Ah! já me esquecia, o ministério da Educação tem como sua enorme e estrutural preocupação garantir que aluno algum escapa às aulas dessa ficção activista que dá pelo nome de identidade de género, ministrada para o efeito numa aulas de cidadania a que se presume os envolvidos nestes factos não devem faltar, pois se tal ocorresse sempre seriam pelo menos objecto da atenção ministerial, quiçá até de um despacho do senhor secretário de Estado da Educação João Costa, como aconteceu aos irmãos Mesquita Guimarães! Dado que estes outros alunos se limitam a bater, espancar, anavalhar e agora também disparar dentro do espaço escolar, do ponto de vista do ministério da Educação eles não justificam tal esforço.

A degradação da escola pública é uma das consequências mais gravosas da geringonça. Percebeu-se rapidamente que as correntes mais esquerdistas iam liderar este campo quando, logo em 2016, contra toda a racionalidade, foi decidido acabar com vários contratos de associação: não era a qualidade da escola que estava em causa, era o seu controlo. Ao longo destes seis anos, os dados sobre o desempenho escolar dos alunos foram-se tornando mais opacos; reduziu-se a exigência; o dinheiro gasto não se traduziu em melhores equipamentos ou em melhor ensino (os alunos saem em média mais caros no ensino público que no privado). A presente dificuldade de contratação de professores é um dos sinais mais evidentes dessa degradação de que pouco ou nada se fala.

Como a escola pública, ao contrário do que acontece nos hospitais, não tem urgências nem atenção mediática (ou tem a atenção que a FENPROF determina), apenas alguns casos, pela sua brutalidade ou grotesco (geralmente andam juntos), chamam por breves momentos a atenção para um quotidiano escolar degradado que não cabe na propaganda: em Maio deste ano, “um grupo de pais dos alunos de uma escola básica do 1º ciclo de um concelho do distrito de Braga apresentaram queixa na GNR por alegados ataques sexuais aos filhos, de 7 e 8 anos, dentro do estabelecimento de ensino. Os agressores serão alunos da mesma escola, “mais velhos”, que segundo os denunciantes, “ameaçam as vítimas com uma navalha”.” Também em Maio foram registadas “Tentativas de violação, alunos com navalhas e agressões em Escola Escola Secundária de Ponte de Sor” enquanto na “Escola Básica de Coruche são frequentes os relatos de agressões, alegadamente praticadas por alunos mais velhos e considerados problemáticos, a crianças mais novas e mais indefesas chegando mesmo a haver uma tentativa de agressão a uma professora.

Em Junho, soubemos que o Ministério Público investigava “denúncias de abusos sexuais entre alunos em escola de Celorico de Basto”. As férias escolares interromperam esta cronologia mas logo em Outubro “Uma jovem de 15 anos queixa-se de ter sido forçada a sexo oral sob ameaça de faca na Escola Básica 2 e 3 da Aranguez, em Setúbal, por um colega de 13 anos.

Depois veio Novembro em que, além do tiroteio na Escola Secundária José Cardoso Pires, em Santo António dos Cavaleiros, Loures, também se registou uma agressão no Agrupamento de Escolas Madeira Torres, em Torres Vedras, a Luís Santiago, de 12 anos, que acabou hospitalizado, e a agressão de uma aluna a uma funcionária numa escola escola básica no Porto.

Não devíamos estar a discutir isto? Ou mais exactamente: há quanto tempo não se discute o ensino? A autoridade nas escolas? António Costa comprou o apoio da extrema-esquerda. Com quê? Em boa parte entregando-lhes o SNS, a escola pública e as empresas de transportes. O resultado foi a transformação destes serviços numa nova RDA: uma utopia donde fogem todos aqueles que podem.

O que aconteceu em Portugal entre 2015 e 2021 tem um rosto e um responśável: António Costa. Agora, e apenas porque os seus parceiros destes anos lhe recusaram o apoio, Costa, como quem muda de casaco, mostra-se disponível para se entender com a direita. Cabe perguntar: para fazer o quê, além de manter o PS no poder? A  governar com a direita, como pelos vistos agora quer e lhe recomendam essas formas de vida política porífera como são Ferro Rodrigues e Basílio Horta, Costa vai fazer o quê? Sobretudo faria o quê de diferente?

PS. Eu entendi, fiquei com a impressão de que o senhor ministro tinha tomado essa decisão com base em opinião jurídicas — não disse escritas, disse opiniões jurídicas, eu chamei-lhes pareceres jurídicos, podem ser pareceres verbais. O senhor ministro [da Defesa] esclareceu que não, foi de acordo com a sua interpretação, com a qual eu concordo” — declarou Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da decisão do ministro da Defesa de não o informar sobre as suspeitas de envolvimento de militares em ações criminosas.
Confesso que não lia nada assim desde que, em “Os Maias”, o Dâmaso Salcede, sob o terror de ser desafiado para um duelo por Carlos da Maia, escreveu uma carta a pedir-lhe desculpa por causa do artigo sobre Carlos e Maria Eduarda que ele, Dâmaso, fizera publicar: «Ex. mo Sr. Tendo-me Vossa Excelência, por intermédio dos seus amigos João da Ega e Vitorino Cruges, manifestado a indignação que lhe causara um certo artigo da Corneta do Diabo, de que eu escrevi o rascunho e de que promovi a publicação, venho declarar francamente a Vossa Excelência que esse artigo, como agora reconheço, não continha senão falsidades e incoerências”.

À medida que lia a sucessão encastelada de justificações do injustificável pronunciadas por Marcelo  “Eu entendi, fiquei com a impressão de que o senhor ministro tinha tomado essa decisão com base em opinião jurídicas não disse escritas, disse opiniões jurídicas, eu chamei-lhes pareceres jurídicos, podem ser pareceres verbais….” das profundezas da memória chegava-me, escarninha e trágica, a frase que Carlos da Maia proferiu quando João da Ega lhe entregou em mão a carta que o Dâmaso lhe escrevera para se livrar do duelo: “Isto é incrível… Chega a ser humilhante para a natureza humana!”

Em abono do Dâmaso esclareça-se que ele arriscava sair razoavelmente ferido caso entrasse num duelo com Carlos da Maia. Já em abono de Marcelo não encontro nada.

Observador