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Um texto para guardar na Arca… – Luís Braga

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Um texto para guardar na Arca…
O texto de José Matias Alves, hoje, no Público, e que pode ser lido algures numa rede social vai suscitar muita simpatia.
O que estou a escrever aqui vai suscitar protestos e antipatia.
Não se dizem coisas destas a um autor de um texto tão “bonito” e senhor “tão importante” das ciências da educação.
Mas tenho para mim que a hipocrisia intelectual nunca é bonita. Estamos no Natal e a atitude reina, mas, na segunda, já não é Natal.
Mas já imagino o coro que vai dizer que parece mal criticar um texto tão fofo e tão emocional.
“O que sentes tu, professor?” num alinhar de palavas doces e até a apoiar a luta dos professores.
Na minha individualidade pensante racional acho que é mais um da linha…. “Vamos falar um pouco dos problemas, falar pouco ou nada de soluções, mostrar muita peninha dos professores e dar alguma coisinha para ver se se calam e deixam de chatear.”
E segue a vidinha habitual de “projetos”, “flexibilidades”, “turmas mais”, “maias” e “inclusões”.
O texto mostra solidariedade. E, tirando ser sintoma de uma atitude frequente deste tipo de intelectuais, que vivem do “estudo da educação”, mas longe do sentimento quotidiano que tão emocionadamente tentam descobrir, não faz muito mal, só adormece e anestesia, pela falta de concreto.
Vai haver muitos textos assim nos próximos tempos.
Alguma comunidade das “ciências de educação” também deve ter ficado alarmada com a objetividade dos slogans e da ação, na semana que passou.
Uma das coisas que resulta da manifestação de sábado passado é um gigantesco “deixem-se de nos atirar tretas”.
Passamos décadas com textos assim nos estágios e formação. Assim, delicodoces, líricos, vazios de reais ideias de mudança ou de ação objetiva, ocos, mas prenhes de adjetivos e retratos longe do real efetivo.
O texto, em si, é um exemplo da nulidade de soluções aplicáveis, que (não) sai da cabeça de certos académicos das ciências da educação.
O culminar deste estilo é o nosso ministro atual, que navega nesta maionese cultural e organizacional desde os tempos da TLEBS (lembram-se? Já era ele…).
A Matias Alves só faço um desafio. Vá dar um mês de aulas no básico ou secundário (22 horas semanais) e descobre mesmo o que sentimos. E depois venha falar-me de “arcas de aliança”. Vai querer leis, ações, medidas, salários, recursos.
A “arca da aliança” que propõe e que há-de fazer “emergir” a “nova política” educativa é uma ideia banal de tão óbvia. E não quer dizer nada. As políticas não “emergem” são ação.
Uma arca de aliança de Spielberg, posta no meio do ministério e que estourasse metafóricamente com a modorra estagnada, de que MA é também, em parte, ideólogo, tinha mais efeito prático.
Para concluir só isso, MA não precisava de tantas palavras.
Como dizia o Almada, as ideias para salvar o mundo já estão todas escritas. Falta salvá-lo.
Nós últimos 15/20 anos em que, com medidas que apoiou, se desenhou o quadro que agora lamenta emocionadamente, onde andou Matias Alves?
Eu sei porque lhe lia os textos.
Sou rezingão e antipático, mas informado.
Nota final:
Aos meus amigos, espero que hoje, se sintam felizes por ser Natal e festa. Não desejo um santo Natal porque sou um rezingão agnóstico.
Comam, bebam, divirtam-se. Daqui uma semana lá estamos outra vez e é o melhor a fazer.