Creio que a generalidade dos professores terá noção da minha já velha entrega à luta, que assumiu um pouco mais de visibilidade no ano letivo que terminou. Por isso mesmo, dispenso-me de relembrar as ações em que participei e as iniciativas que tomei. Direi apenas que estou consciente de ter lançado sobre o incêndio todas as gotas de água que o meu bico de colibri pôde transportar. Contudo, estou em vias de deixar, enquanto associado, o sindicato que teve a coragem e capacidade para ressuscitar a classe docente para a luta e levar a cabo a maior contestação da História do Ensino em Portugal.
Não tenho, nem nunca tive, uma relação especial com André Pestana. Nem sequer cheguei, nunca, a ter uma conversa presencial com ele digna desse nome. Falámos ao telefone, por minha iniciativa, no início do ano letivo 2018/2019. Voltámos a conversar telefonicamente, por sua iniciativa, em maio do ano passado. Entretanto, e após essa conversa telefónica (a última), trocámos algumas mensagens através do Facebook. Embora não tenha tido com ele uma relação de proximidade, também não se pode dizer que o André Pestana desconhecesse a minha pessoa.
No início de janeiro deste ano, através de mensagem, perguntei-lhe se era possível realizar uma reunião sindical na minha escola, para ajudar mobilizar os docentes. Respondeu-me que sim, que era possível, com a sua participação “online”, tal como estava a acontecer com outras escolas. Mas teríamos de ter dois delegados sindicais. Tanto quanto sabia, apenas eu era sindicalizado no STOP. Ainda assim, falei com os meus colegas, acabando por confirmar o que pensava. Mais tarde, sei que, pelo menos, mais uma colega se associou a este sindicato, mas naquele momento, efetivamente, era impossível ter dois delegados sindicais, condição para que a reunião se efetuasse. Foi o que disse ao André Pestana, no dia 5 de janeiro, através de mensagem.
Apesar de lhe ter enviado mais algumas mensagens, nunca mais tive retorno da sua parte. No plenário, com arruada, realizado aqui em Braga no dia 25 de janeiro, apesar das publicações diárias de fotografias de ações de greve ao primeiro tempo, com presença diante da escola — que estava a ser exemplo — a minha escola foi “esquecida”, aquando do envio das convocatórias, que possibilitariam a justificação das faltas. Fomos ao plenário e à arruada, mas em condição de grevistas, com o devido desconto no salário.
Na véspera desse dia, ainda não consciente de que o André Decidira não mais me responder, enviei-lhe uma mensagem a confirmar a minha presença, assim como a de outros colegas da minha escola, e a manifestar-lhe o meu desejo de o conhecer pessoalmente e de o poder abraçar. No dia seguinte, apesar de ter estado sempre diante dele, a não mais de três metros, ostentando aquele conhecido cartaz da Maria de Lurdes Rodrigues com João Costa ao colo, nunca me dirigiu sequer o olhar. Estava completamente invisível para ele. No final, fui abraçá-lo. Porém, foi como se nunca tivesse tido nenhum contacto comigo na vida, como se nunca tivesse sequer ouvido falar de mim. Disse-me apenas o seguinte: “Colega, espero que, no próximo dia 28, possa participar na marcha, em Lisboa!”.
A “Carta aberta a Ícaro” foi publicada, no Facebook, na véspera dessa manifestação. Queria que ele soubesse o que eu pensava do seu destino, mas que, simultaneamente, ninguém mais (ou muito pouca gente) pudesse entender. Não queria, sobretudo, interferir negativamente (ainda que infimamente) na marcha do dia seguinte. Estava selada a minha efémera relação com André Pestana.
Apesar do sucedido — e como facilmente todos poderão comprovar nas minhas publicações — continuei a apoiá-lo e até a defendê-lo publicamente, o mesmo acontecendo com o sindicato e com as ações promovidas (o abaixo-assinado contra os serviços mínimos ilegais é exemplo máximo dessa atitude). Recentemente, mantive a mesma postura, quando ele foi amplamente criticado, num processo que culminou com a interrupção da sua atividade sindical para férias.
Porém, a minha decisão deixar de ser associado do STOP (o que não significa que deixe de participar nas ações de luta que este sindicato venha a promover) não tem a ver diretamente com o que acima foi dito, sobre a minha relação com André Pestana, mas com o facto de nem sequer ter merecido, até ao presente, resposta do sindicato a um e-mail enviado no dia 21 de julho, solicitando apoio para os professores que têm faltas injustificadas por terem desobedecido aos serviços mínimos ilegais decretados para a greve de 26, 27 e 28 de abril, mesmo para os não sindicalizados. Nem água vai nem água vem, nada! Nem sequer acusaram a receção da missiva. Mas sei que, individualmente, estão aprestar apoio jurídico a alguns dos “desobedientes”.
Senti que não era apenas André Pestana que decidira ignorar-me, mas o próprio sindicato. Fiquei sem outra saída que não seja a da rutura. Não faz sentido — e seria até humilhante — permanecer num sindicato que me ignora desta maneira.
Desejo, contudo, longa vida e muito sucesso ao STOP, porque as suas vitórias serão vitórias dos profissionais da educação e da Escola Pública, o meu maior brasão.