Estou fora do sistema educativo há uns anos. Ainda hoje antigos colegas me perguntam se tenho saudades da Escola. Saudades da minha Escola,… claro. Fico, entretanto, pensativo, hesitante, um pouco absorto até, perante a questão, se bem que a minha resposta, já bem interiorizada, se mantenha sempre a mesma: Qual Escola? A Escola das burocracias, dos planos e dos projectos? Das reuniões intermináveis e maçudas? Das actas “alençoladas”? Da papelada infernal?
Desta Escola não tenho qualquer saudade. Nenhuma. O mesmo não acontece com os alunos e com os pais. Todos os alunos e a maioria dos pais. Sempre foram correctos comigo. Há sempre uns pais mais metediços e impreparados que estorvavam. E estorvam. Sempre tive relações espectaculares com a comunidade educativa por onde lecionei. Não deixei “rabos de palha”, nem contas por ajustar. Cumpri a minha “missão”.
A classe de professores é de qualidade superior. Não tenho dúvidas! Sujeitam-se aos mais difíceis ambientes sociais e “acomodam-se” a condições complicadas de alojamento e de distância. Às vezes, até a família fica longe. Praticamente, “abandonada” de afecto e de proteção. E partem. Angustiados, mas partem. Revoltados, mas partem. Desiludidos, mas partem para estarem presentes, junto dos seus alunos e darem o seu melhor. Para ajudarem a formarem homens e mulheres livres, críticos e bons elementos sociais.
4 – Apanhei este “modelo escolar”, não sei como classificá-lo agora, nos últimos anos da minha carreira docente. Esse período final foi difícil e suficiente para me dar cabo da cabeça e empurrar-me para a aposentação. O sistema “obrigou-me” a aposentar. Aguentar tal “bicharoco” que infernizava a vida dos professores e cujos resultados pedagógicos não se alinhavam com o esforço despendido, está bem presente no estado actual da Educação. Ou seja, professores desmotivados, exaustos, zangados, doentes a educar alunos insatisfeitos e rebeldes. Turmas sem professores a todas as disciplinas, são mais de 60 mil alunos. Esta é a dramática situação.
Trabalhar para os papéis e para as estatísticas não se ajusta às verdadeiras necessidades de uma Escola viva e dinâmica, inserida num mundo cada vez mais exigente nos saberes e nas competências. O professor não serve para trabalhar com papéis. O professor é um construtor.