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Ter professor é como jogar Poker, uma questão de sorte! – Rui Cardoso

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A falta de professores em Lisboa e na região Sul do país é cada vez mais uma evidência de que algo vai mal, é um jogo de sorte e azar para os alunos, mais valia jogarem num Casino online ou irem a Monte Gordo.

Terminou o primeiro período e ainda há escolas com falta de professores de determinadas disciplinas, ainda há alunos sem aulas, sem professor a esta ou aquela disciplina. Este fenómeno foi noticiado várias vezes nos meios de comunicação nacionais e nos blogs especializados em educação, mas a solução tarda em chegar às escolas e aos alunos.

O que causa este fenómeno?

Além de ajustamentos que só podem ser feitos no início de cada ano letivo, em função da entrada e saída de alunos e de professores que são colocados com redução do horário letivo, o que implica haver horas por atribuir, ao longo dos meses surgem outras necessidades decorrentes de licenças de maternidade, reformas ou baixas. Apesar de o Ministério não disponibilizar números, todos os diretores contam que há cada vez mais professores com problemas de saúde, por causa do envelhecimento da classe e do grande desgaste profissional. Quanto a reformas, aposentaram-se no ano de 2019, 1409 docentes. Mas na maioria dos casos os professores estão de baixa médica e os concursos para os substituir não têm dado resposta, os professores não aceitam a vaga, ou ficam desertos na modalidade de oferta de escola, ou porque os candidatos acabam por desistir devido às dificuldades em encontrar casa. Também existem casos em que os professores de quadro de zona pedagógica e quadro de agrupamento, através da mobilidade interna e mobilidade por doença, se deslocaram para as zonas mais a norte de onde são originários, o que deixa vagas em aberto que o sistema não é capaz de ocupar.Se houver um horário noutra escola, mesmo que incompleto, podem concorrer para lá, voltando a sobrar horários em Lisboa e no Algarve. Outra das razões é a realidade de que profissão de professor não atrai jovens suficientes, originários de Lisboa e da zona sul do país, para suprir a falta que as regiões necessitam, a maioria dos professores do nosso país são originários das zonas norte e centro do país.

Quando uma vaga está disponível para uma substituição, o agrupamento de escolas lança esse pedido numa plataforma online do Ministério de Educação, entre segunda e quarta-feira de cada semana. O programa do Ministério corre a lista ordenada dos candidatos que, antes do início do ano letivo, demonstraram estar disponíveis para determinados horários em determinadas zonas do país. Havendo coincidência entre o horário em falta e as preferências dos candidatos que estão nas reservas de recrutamento, os professores são informados na sexta-feira, tendo dois dias úteis para aceitar ou não. O problema começa aqui. Os professores podem aceitar ou não, se aceitarem ainda podem rescindir contrato nos primeiros 30 dias, se não aceitarem, volta-se ao início do processo. O processo é repetido nos mesmos moldes por mais uma semana no caso de ter havido recusa do candidato melhor classificado ou por não haver nomes na lista da reserva de recrutamento. Se voltar a ficar vazio, então o horário passa para oferta de escola. Nesta etapa são os professores que dizem se estão interessados, podendo já concorrer quem tem apenas habilitação própria, ou seja, sem habilitação especifica em ensino, obrigatório para o concurso inicial de contratação e reserva de recrutamento de professores. Só que também há recusas, quando se deparam com as tais dificuldades de encontrar alojamento de acordo com o vencimento e condições pretendidas.

Este problema tende em agudizar-se nos próximos anos. A saída de docentes para a aposentação vai trazer novos desafios à colocação de professores nas regiões em que já se sente falta.

Vamo-nos concentrar em números reais, tomemos como exemplo o grupo 110 (1.ºCiclo). Em 2018, o número de professores do quadro era de 23.445, o número de candidatos externos foi de 10.282 e em 2030 ter-se-ão reformado 12.613. A diferença entre os candidatos a professores em 2018 e os que estarão reformados daqui a dez anos é de 2.231 docentes em falta. Se somarmos aos docentes que se reformarão, os docentes que, por possuírem habilitações para outros grupos de ensino, abandonarão o 1.º Ciclo por obterem vaga em outros grupos de ensino ( nos outros grupos de ensino o número de aposentações também será elevado), os que abandonarão a profissão ou tentativa de a ter por desalento ou um emprego estável noutra área (muitos dos candidatos já estão a exercer noutras áreas, embora continuem a concorrer), assistir-se-á a uma sangria e a falta de professores evidentemente vai tornar-se insustentável. Se tomarmos como exemplo, Geografia, Informática, História e EMRC, a insustentabilidade já é atual.

Resta-nos saber quais as soluções que o poder político vai encontrar para superar este problema antes que seja tarde de mais.

Fonte: RegiãoSul