Nos últimos dias, tivemos conhecimento de uma petição que pretende restringir o uso de telemóveis nas escolas, com o objetivo de promover que se “viva o recreio escolar, sem ecrãs de smartphones”. Não consigo pensar em algum argumento que me convença que, no primeiro ciclo, um aluno deva levar um telemóvel para a escola, ou mesmo sequer ter um em casa. Ainda assim, se o que acontece dentro de cada casa e em cada família apenas a esse núcleo diz respeito, por outro lado, quando passamos para o campo do espaço escolar, a realidade é outra e é da responsabilidade da escola, como instituição de educação, restringir o acesso à tecnologia, já tão presente pela vida fora, em tantos momentos do nosso quotidiano.
Parece-me pois que, perante o crescimento da obesidade infantil e a necessidade de uma socialização maior fora dos ecrãs, além da urgência de um contacto próximo com a realidade ao vivo e a cores, os alunos do primeiro ciclo não devem trazer um telemóvel para o espaço escolar. Mas sublinho que esta atitude parte de casa, da educação e princípios que os pais transmitem aos seus filhos.
Considero, porém, incoerente defendermos o princípio da não utilização de telemóveis na escola e depois forçarmos crianças, que tanto precisam de treinar a sua ortografia e motricidade fina, a utilizarem computadores para fazer provas ou manuais digitais em contexto de sala de aula. Este jovens terão muito tempo para utilizarem as tecnologias ao longo de toda a sua vida. Nestes primeiros anos de aprendizagem, é muito mais relevante conhecerem melhor o mundo em seu redor, contactarem diretamente com as pessoas, com a natureza, brincarem, fazerem exercício físico, lerem livros, participarem em visitas de estudo, do que propriamente estarem agarrados à tecnologia dentro da sala de aula ou no recreio.
Isto não invalida que o professor não possa ou não deva utilizar recursos tecnológicos para enriquecer as suas aulas. Certamente que sim, porque a tecnologia também trouxe diversas formas didáticas de aprendizagem. Porém, é o professor que controla o uso dessa tecnologia e a ela recorre, não o aluno.
Desta forma, compete, em primeiro lugar, aos adultos restringir o acesso das crianças à tecnologia, seja em forma de telemóvel, de tablet, de computador, seja do que for. A socialização fora das redes sociais é muito importante e as nossas crianças têm muito mais para viver e para aprender fora dos ecrãs. Precisamos de um mundo mais humano e, para tal, de educar para a sensibilidade, para a empatia e para uma convivência saudável em sociedade, e isso vai muito além da tecnologia.