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Tecnologia para que te quero – Margarida Marrucho Mota Amador

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Agora com as escolas abertas para mais de metade dos alunos, como estamos a pensar equilibrar o digital com o presencial? O que se quer que continue digital e o que é absolutamente necessário que seja presencial?

As plataformas informáticas são uma realidade para algumas escolas há décadas. Outras iniciaram com a pandemia da covid-19 esta aventura de navegar com os professores e os alunos pelo digital, nesta nobre tarefa de ser professor e mentor de crianças e jovens.

São várias as facilidades que estas plataformas trouxeram, como seja, partilha de recursos, rapidez, trabalho em escala (vs. personalização), a manutenção e preservação de recursos, entre outras. Ao mesmo tempo, também trouxeram desafios novos e sérios para as organizações escolares.

Logo em primeiro lugar temos a centralização de todas as actividades dos processos educativos. Com os processos tipificados e os comandos encadeados, parte da criatividade e imaginação tende a perder-se pelo decorrer do processo. A centralização em quem tem as palavras-passe, em quem gere as palavras-passe de outros (porque isso também acontece), e ainda em quem pode tudo ver e perceber o que se passa e passou. Ou seja, a digitalização do ensino traz também a vigilância de muitas tarefas dos professores pelos órgãos de gestão da escola e com as plataformas do Ministério da Educação, a vigilância da escola pela tutela.

Todos estes procedimentos para aceder, utilizar, produzir, disponibilizar e armazenar, trazem um conjunto de regras burocráticas que, para alguns, em vez de facilitar, propiciam o emperrar do processo criativo e personalizado aos alunos. Para já não falar na sobrecarga de trabalho para os professores.

Num outro texto, já aqui perguntei: tem o digital estado ao nosso serviço ou nós ao serviço do digital? Quais são os campeonatos de competitividade em que queremos entrar? Como conseguimos com o nivelamento do digital trazer à superfície aquilo que é único em nós, em cada Projecto Educativo? Quem está de fora, acaba por ter a tendência a dizer que as escolas são (quase) todas a mesma coisa. E aqui havia assunto para umas quantas outras linhas.

Desde Março de 2020 que quase transformamos as escolas em organizações pure players. Aquelas onde não é preciso ter espaço físico para trabalhar, chegando a todos os cantos do mundo, disponibilizando bens e serviços online. Com orientações ou não das lideranças escolares, os educadores tiveram a necessidade de colocar todos os recursos e orientações online para que os alunos e encarregados de educação pudessem ter acesso ao que era importante para a aprendizagem. Também possibilitou e possibilita a verificação e comparação pelos órgãos de gestão da escola, dos recursos e outros materiais e indicações, entre turmas e entre professores. Tudo deve estar preenchido nos sítios certos, completo, seguindo as normas gráficas e outras orientações à risca para que seja possível gravar e disponibilizar, completo e a horas, para que não existam discrepâncias entre professores e muito menos aquilo a que os alunos podem e tem direito a ter acesso. Mas que burocracia estamos a incentivar? Que competição estamos a potenciar? Que criatividade estamos a matar? Onde está a personalização do ensino?

Nestes tempos onde é preciso estabilidade e simultaneamente dinamismo e respostas rápidas, qual é o grau de burocracia que trouxemos para as escolas, com esta introdução das plataformas digitais? Será que o problema está nas plataformas em si mesmas ou no uso que fazemos delas? Tal como em tudo na vida, o modo como nos servimos do que está ao nosso uso, ou a forma como deixamos que sejamos nós a servir o que está ao nosso dispor, faz toda a diferença. É o que dizemos no ditado: “Somos nós para as coisas ou as coisas para nós?” Saibamos, também nas escolas, utilizar a tecnologia para o nosso serviço, criando procedimentos pertinentes e organizados, que permitem a flexibilidade e criatividade de cada momento, de cada dia, a maximização do potencial de cada indivíduo e da sua personalidade. A tecnologia existe para nos servir e sejamos vigilantes com o fio ténue em que passamos a estar ao serviço da tecnologia.

Público