Início Educação Sobre o Estudo Diagnóstico das Aprendizagens – Diogo Fernandes Sousa

Sobre o Estudo Diagnóstico das Aprendizagens – Diogo Fernandes Sousa

1024
0

Perante um contexto adverso à modalidade do ensino tradicional, suscitado devido à pandemia Covid-19, recorreu-se à modalidade alternativa do ensino à distância, com recurso a meios tecnológicos, de modo a colmatar um período temporal em que as aulas presenciais não puderam ser lecionadas. As escolas estiveram encerradas uma parte significativa do ano letivo 2019/20 e, para já, uma parte do presente ano letivo, pelo que se considerou importante aferir de que maneira foram assimilados os vários conhecimentos pelos estudantes.

Igualmente importante, é destacar que estes testes diagnóstico recorreram a uma modalidade exclusiva de perguntas de resposta rápida, ou seja, perguntas de escolha múltipla e similares, pelo que a sua execução prática estava facilitada. Os resultados foram determinados em função de três referenciais base para as aprendizagens: literacia da leitura e da informação, literacia matemática e literacia científica. Designadamente, abordamos competências de disciplinas como, por exemplo, Português ou História (literacia da leitura e informação), Matemática (literacia matemática) e Ciências Naturais ou disciplinas de desenvolvimento de raciocínio similar (literacia científica).

O que seria de esperar destas avaliações?

Basicamente, seria de esperar que os alunos estivessem na melhor preparação possível, pois existe sempre alguma competição entre os estabelecimentos escolares para serem as melhores escolas do concelho, distrito ou país. E, apesar destas avaliações terem apenas um caráter de diagnóstico, oferecem um conjunto de informações estatísticas que de outra forma não estaria disponível.

Que resultados foram obtidos?

Ao nível da literacia da leitura e da informação, e em todos os anos de escolaridade avaliados, houve um elevado número de alunos que não conseguiram responder com um mínimo de sucesso, e aqueles que obtiveram esse limiar do sucesso parcial ou completo ficaram, na grande maioria, incluídos no primeiro nível, ou seja, as suas capacidades não vão além de identificar informação num texto e realizar uma reorganização dessa informação. E os resultados foram particularmente críticos nos estudantes do 3º ano de escolaridade.

Quanto à literacia matemática, a situação repete-se, mas de uma forma ainda mais problemática do que a verificada ao nível da leitura e da informação. A grande maioria dos alunos não conseguiu ultrapassar a resolução de problemas de complexidade reduzida.

Finalmente, em termos de literacia científica, observou-se uma ligeira melhoria, com um maior nivelamento entre os três primeiros níveis. Contudo, a maioria dos estudantes respondeu com sucesso de forma apenas parcial ou parcialmente reduzida, constatando-se que os estudantes são capazes de selecionar conhecimento científico a partir de fontes para explicar fenómenos e acontecimentos naturais ou do dia-a-dia, retirando conclusões a partir dessas análises. Contudo, o que se destaca em específico na literacia científica é que estes “bons resultados” se verificam apenas ao nível do 3º ano de escolaridade, progredindo de uma forma extremamente negativa para os restantes anos avaliados, onde os alunos não têm capacidade para, sequer, responder corretamente à maioria das questões colocadas.

Em suma, a grande conclusão que podemos retirar desta avaliação diagnóstica externa, partindo da amostragem deste estudo oficial do Governo, é que os alunos portugueses, na totalidade dos anos de escolaridade avaliados, apresentam graves dificuldades na realização até das tarefas mais básicas!

Conclui-se, assim, que a modalidade do ensino à distância não se equipara minimamente ao ensino presencial, e que os alunos mais penalizados de um ponto de vista de preparação base, ao nível do Português e da Matemática, são, efetivamente, os mais novos. E à medida em que aumenta a complexidade das disciplinas científicas, não se verifica uma progressão equiparada do conhecimento e das competências dos estudantes.

Observador