Início Educação Sim às escolas abertas neste novo confinamento – Margarida Marrucho Mota Amador

Sim às escolas abertas neste novo confinamento – Margarida Marrucho Mota Amador

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As escolas e os agentes educativos mostraram aquilo que todos já sabíamos: o cuidado de todos os dias, a preparação adequada de processos, o rigor da implementação de procedimentos e normas. Tudo isto acontece porque sempre se cuidou e continua a cuidar com todo o esmero das crianças, adolescentes e jovens. E cuida-se porque se quer o melhor e nada menos do que não seja o melhor que sabemos fazer e podemos oferecer. Os educadores são como os pais, não querem nada menos do que o melhor para os seus alunos. É esta ânsia de fazer bem, o melhor que sabem e podem, que leva a que se siga à risca as orientações, que se seja rigoroso com o seu cumprimento e que se faça de tudo para que corra bem. Se este comportamento sobressai em tempo de pandemia, sempre assim aconteceu, desde sempre.

A velha conversa de que educar é uma paixão, um amor para a vida; encontra aqui lugar: quando amamos, ambicionamos o excelente para o outro e nada menos do que isso.

Se alguém tinha dúvidas sobre o papel cuidador e protector das escolas, tem agora de forma evidente, esta certeza.

Com esta permanência de abertura em tempo de pandemia, as escolas, além de conseguirem prosseguir a sua função pedagógica como relação empática, directa e próxima, entre professor e alunos, cumprem a sua importante função social. Além de possibilitar a actividade económica de todos os seus fornecedores, e são muitos, desde o sector alimentar, aos produtos de limpeza e higiene, permite que as famílias que se encontram em teletrabalho, desenvolvam a sua actividade profissional a horas de expediente e com a devida concentração, sem terem de dividir computadores, tempo, atenção, acompanhamento aos filhos, tal como aconteceu no primeiro confinamento. Dá a possibilidade aos pais de continuarem a ser pais e não uma espécie de dois em um: pais e professores.

As inúmeras reformas educativas por que todos os professores já passaram, desenvolveram nas escolas a capacidade de adaptação por excelência. Os professores com poucos anos de serviço são poucos e os que são em maior número têm largos anos de serviço, muita experiência, sabedoria acumulada, saber fazer, bom senso. Muito há que aprender com estes profissionais da educação antes que a reforma lhes abra outra etapa na vida. Capacitá-los com ferramentas de mentores, para que possam passar às gerações mais novas, todo o conhecimento de como se ensina, como se previnem determinadas situações, como se reage a diversas ocorrências, é uma opção a considerar seriamente.

Um dos grandes riscos das reformas ou das saídas de bons profissionais das organizações é o da perda de conhecimento. Como obstar a que isso possa acontecer com os professores, neste momento em que é difícil encontrar profissionais para colmatar falhas e ausências? Este é também um novo desafio que as escolas têm de enfrentar.

Enquanto exerci funções de liderança nas escolas sempre acarinhei a presença dos mais velhos, cheios de sabedoria e com a capacidade de ver os acontecimentos de forma mais distante e por isso com maior sentido crítico. Funcionam como modelos para os mais novos e dão segurança a toda a comunidade. Como já deram provas da sua excelência pedagógica, sentem que não têm nada a provar e arriscam mais, aceitam desafios novos e também aí se tornam modelos. Uma simples conversa na sala de professores é uma aula de como, quando e quem faz o quê, nesta apaixonante profissão. Vale mais do que 25 horas de formação, estágios e mestrados via ensino. É claro que nem sempre é assim. Mas muitas vezes é, se as lideranças souberem ver, motivar, incentivar e acarinhar, em suma, se souberem tirar o melhor de cada professor e dar-lhe a função pedagógica dirigida aos seus pares, que não é mais do que um ‘fato feito à medida’ que ‘cai como uma luva’.

As escolas continuarem abertas possibilita também tudo isto. Não deixem passar cada dia, cada oportunidade, fortuita ou intencional, para que o conhecimento passe de geração em geração de professores experientes e dedicados. Há provas dadas para confiarmos nos professores. Eu confio.