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Regresso às aulas: Joana e Maria reencontraram-se ao fim de dois meses e não resistiram a um abraço

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Um a um, iam chegando tranquilos e com as regras assimiladas, muitos já com as máscaras trazidas de casa postas na cara. Os cumprimentos eram tímidos, à distância, mas Joana e Maria, depois de um par de segundos a trocarem sorrisos, não resistiram a um abraço. Rápido, mas feliz. As duas amigas da turma do 12º da Secundária Frei Gonçalo Azevedo, em Cascais, não se viam sem ser por um ecrã há mais de dois meses.

A mãe acabara de deixar Joana à porta e não tinha dúvidas sobre a opção a tomar: “Ela já estava desejosa de vir para a escola. É importante recomeçar, porque a vida não pode parar”, comenta a mãe, ela própria uma das vítimas da crise provocada pela pandemia. Ficou desempregada no dia em que a cantina onde trabalhava e que servia uma escola primária encerrou. Ao contrário do secundário, todo o restante ensino – do 1º ao 10º ano – será mantido à distância até ao final do ano letivo.

Mas para os mais de 170 mil estudantes do 11º e 12º (e ainda dos dois anos terminais de todas as ofertas de ensino secundário, como os cursos profissionais e artísticos) esta foi uma segunda-feira diferente. E diferente também da forma como sempre estiveram na escola.

Agora já conseguem voltar a ouvir os professores sem ser pelo som do computador. Mas têm de usar máscara. A turma provavelmente nunca foi tão pequena – 12 a 15 alunos no máximo por sala –, não podem ter um colega de carteira e os recreios são mais controlados do que nunca.

A orientação é para se manterem dentro das salas entre disciplinas, mas ninguém leva a mal que saiam para ir apanhar ar. Desde que mantidas as distâncias. No chão, as setas indicam os percursos que têm de ser seguidos e há gel desinfetante, que é obrigatório passar nas mãos mal se passa o portão. São novas rotinas que vão passar a fazer parte da vida diária nas escolas. Mas que são aceites por todos como condição para o regresso.

E O PRÓXIMO ANO LETIVO?

“A matéria explicada pelos professores não tem nada a ver com as aulas em casa”, admite Cristina. “É mais fácil perceber assim e podemos tirar logo as dúvidas”, reforça Daniela. A opinião não é, no entanto, unânime. Há colegas que preferiam manter-se no conforto de casa em vez de estarem a sair para a escola para ter apenas algumas aulas. E há uns que preferiam só assistir àquelas em que vão realizar exames e não ter de ir a Filosofia ou Inglês, por exemplo.

Este ano, e de forma excecional, os estudantes só têm de fazer as provas nacionais que sejam exigidas pelos cursos superiores a que se queiram candidatar. Os exames não vão contar para as notas das disciplinas, mas apenas para a média de ingresso na universidade.

Circulando pelos corredores com uma cábula do novo horário na mão para orientar os alunos mais perdidos, David Sousa, diretor do Agrupamento de Escolas Frei Gonçalo Azevedo, certifica-se que tudo está a correr como planeado. Para já, foi fácil. “Reorganizar os horários e preparar tudo para estes 300 alunos não custa. O que me preocupa é o próximo ano letivo”, antecipa. No total, a escola básica e secundária conta com 1200.

“Já devíamos estar a pensar como vamos fazer. Se teremos de ter um plano B para o caso de não ser possível ter todos estes alunos na escola ao mesmo tempo. Iremos voltar a ter dois turnos? Alternar entre ensino presencial e à distância? E a avaliação?”, interroga David Sousa.

A preocupação maior é com o ensino básico, quando a autonomia para estudar é menor e a presença do professor ainda mais necessária. “Estes alunos do 11º e do 12º conseguem focar-se muito mais e estão mais comprometidos, porque muitos querem concorrer ao ensino superior”, acredita o diretor.

Mas este é também um ensaio controlado, feito com um número reduzido de alunos, para as regras que poderão ter de ser aplicadas no próximo ano letivo, avisou já o primeiro-ministro.

Para já trata-se de ganhar a confiança das famílias, professores e funcionários. E na Escola Frei Gonçalo Azevedo há um outro instrumento disponibilizado pela câmara de Cascais. Quem quiser pode fazer um teste rápido (o resultado demora um minuto, após uma indolor pica no dedo) à presença de anticorpos IgM, que se desenvolvem nos primeiros 10 dias de infeção. Um teste positivo obriga a uma chamada para a linha SNS24 e a acionar todo o protocolo estabelecido para um caso de Covid-19 e que está previsto em todos os estabelecimentos.

De acordo com a Associação Nacional de Dirigentes Escolares, num balaço feito à Lusa, entre 75% e 80% dos alunos que tinham de voltar esta segunda-feira às escolas fizeram-no. Quem não quiser ir, apenas terá de apresentar uma declaração do encarregado de educação. Mas poderá deixar de ter acesso ao ensino à distância nas disciplinas que têm aulas presenciais. A dispensa não pode ser seletiva e aplica-se a todas as cadeiras.

 

Fonte: Expresso