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“Regresso a casa qual guerreiro depois de mais uma batalha” – César Brito

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Regresso a casa qual guerreiro depois de mais uma batalha. Por esta hora, em viagem, ainda não vi o que se foi dizendo nos media durante a tarde sobre este dia memorável. Estive empenhado em vivê-lo! Mas adivinho que o enquadramento e as análises, salvo raras excepções, esquecerão a diferença essencial entre o movimento de agora e os outros que lhe antecederam: é espontâneo e basista, não organizado ou orientado por cúpulas partidárias ou sindicais. Este detalhe faz toda a diferença, abrindo novos paradigmas para o processo negocial entre as partes e dificultando antever a reação dos profissionais da educação ao que vier a ser proposto e como isso satisfará ou não as suas expetativas.
A forma amadora, algo ingénua até, como os trabalhadores se começaram a organizar em cada escola e, paulatinamente, foram aglutinando aqueles que, já desiludidos de lutas passadas, tinham desistido, ou aqueles que nunca sequer acreditaram que valesse a pena lutar por alguma coisa, é o que dá contornos inéditos ao que se está a viver. De resto, as emoções sentidas na manifestação de hoje são claras. Como se chegou a este estado?
Simples. Junte-se uma classe profissional que já não tem mais nada a perder porque, em duas décadas, perdeu de tudo: dinheiro, prestígio, respeito, condições de trabalho, valorização social do seu papel, anos de serviço, expectativas de progressão normal de carreira e de reforma. Acrescente-se a observação do seu envelhecimento coletivo sem haver de novo quem queira juntar-se-lhe, salvo se tiver espírito missionário e tendência para mártir, o que redundará, a breve prazo, no colapso do ensino público apesar dos discursos da sua imprescindibilidade à organização social e à prosperidade da nação. Enforme-se tudo na estupefação de ver, perante este desinvestimento na escola e nos seus ativos, milhões em dinheiro público, ano após ano, a ser desbaratado em parcerias, salvamentos de falidos, fundos de resgate, indemnizações de gestores públicos, etc. Polvilhe-se tudo com burocracias absurdas, projetos da treta, planos para tudo e mais alguma coisa, utopias pedagógicas, tarefas que desviam tempo e recursos do objetivo central: ensinar alunos, formar cidadãos. Está bom de ver que, com esta receita, o resultado só podia ser o que aí está: revolta pelo tratamento recebido no passado, indignação pela indiferença no presente, frustração por nem sequer se vislumbrar qualquer futuro. Se, ao menos, a panela deste cozinhado tivesse aguentado a pressão, como era costume…
Acontece que, desta vez, saltou-lhe a tampa! E é aí que está a diferença!