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Quantas vezes um professor deslocado vai ao lixo no mês de Julho?

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Não, caro leitor. Se o seu primeiro instinto o levou a pensar que utilizaria este texto para reclamar uma medalha de pessoa que cumpre com as suas obrigações domésticas, não, não é isso. Aliás, o ecoponto mais próximo do sítio onde vivo estará, no mínimo, a cinco quilómetros daqui. No entanto, aqui consigo pagar a renda. E não, não pretendo reflectir sobre ecopontos.

Como professor deslocado, o fim do mês de Julho, ou o fim do contrato, é o momento de tentar meter a casa toda dentro do carro, se possível, de uma só vez. Outros dirão que a mobilidade no âmbito do trabalho é normal e até necessária no contexto laboral onde vivemos. Outros dirão que há séculos que existem pessoas deslocadas da sua terra natal para exercerem a sua profissão. Sim, sou capaz de entender tudo isso. No entanto, aprender a lidar o momento da mudança é um desafio que acresce ao de embarcar na aventura de leccionar e de encontrar um sítio para dormir que se consiga pagar.

Devemos, friamente, aceitar isto e perceber que ainda nos faltam, mais coisa, menos coisa, 15 anos disto? Desapegar-nos das coisas que vamos comprando com o dinheiro dos nossos salários e aceitar, apaticamente, que irão ficar fechadas em caixas, porque já nem vale a pena colocar numa estante? Como é que lidamos com a lengalenga que nos venderam ao longo da vida: “Estuda, para teres uma boa vida!”.

Público

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