Conta-nos a mitologia grega que Prometeu ensinou aos homens coisas muito úteis: confecionar remédios, construir barcos, cantar e escrever foram algumas delas. Poderíamos, na narrativa moderna, dizer que Prometeu foi professor. O titã – responsável pela criação dos mortais (homens e animais), em conjunto com o seu irmão, Epimeteu, que acabou por conceder todos os dons aos animais, deixando os seres humanos desprovidos de outorgas – compadecendo-se, roubou o fogo dos deuses para o ofertar aos homens. Este mito remete para a origem da humanidade, para a génese. O fogo simbolizava o conhecimento: traz luz, extingue as trevas, concede esperança, é um legado que caminha para a civilização, que jamais se poderia construir na escuridão.
Prometeu foi castigado, quando na realidade poderia ter sido premiado. O conhecimento que transferiu para a humanidade – roubado aos deuses, é certo – pôde, finalmente, ser por esta utilizado e coube-lhe, dessa forma, o bom senso de o utilizar para o bem ou para o mal, conceitos aceitavelmente discutíveis dependendo do teor.
Oppenheimer, durante a II Guerra Mundial, usou o conhecimento – acredita-se – para que os EUA criassem a bomba atómica antes dos Nazis. O conceito inicial – quero crer – era ter poder apenas para dissipar forças contrárias a usar esse poder contra o seu país (uma visão romântica? talvez). O resultado final foi a usurpação da receita, que gerou efetivamente poder para usar em terceiros – o caos nuclear, que persiste até aos dias de hoje, independentemente do número de vezes que tenha vindo a acautelar a situação. Oppenheimer foi castigado: viveu o resto dos seus dias com “sangue nas mãos”, num dilema moral e num confronto ético consigo mesmo. Parafraseando Einstein, “a bomba atómica mudou tudo, exceto a natureza do homem”.
Envergou para sempre a genialidade da construção de algo tão poderoso e culpou-se para sempre disso mesmo.
Acredita-se que quanto maior for uma estrela, mais violenta é a sua morte.
O Japão e o conceito de “professor-estrela”
O Professor Ceia (uma verdadeira supergigante), escreveu no passado dia 27 de agosto sobre o “professor-estrela”. Para entender este conceito, há que conhecer valores como os do “Respeito” (Ikei, no Japão), um conceito há muito esquecido pela sociedade portuguesa, pela falta de prática do mesmo.
Os políticos esqueceram-se dos seus deveres e encontram-se numa sala com o letreiro “Consílio dos deuses” sorvendo os seus brandys e esfumaçando charutos enquanto movem as peças do xadrez da saúde, educação e habitação (entre outras tantas). Trajam novamente de fraque, já não é vergonhoso exibir a riqueza enquanto luzimos mendigos em bairros pobres na Serafina. Afinal de contas, se ali estão é porque o merecem e já ninguém tem que provar nada a ninguém.
O Sr. Primeiro-Ministro, em campanha, deixou “a todos os professores e educadores uma palavra de confiança”, comprometendo-se a “devolver tranquilidade à escola portuguesa”. Assertivamente declarava que “não haverá qualidade na escola, na educação, no futuro do nosso país sem professores e educadores motivados”. Concluiu agradecendo “por tudo aquilo que todos os anos fazem pela formação das novas gerações”.
Duas questões:
- Estamos em 2023, a menos de um mês do aniversário da filmagem que cito, passados 8 anos. Ainda não conseguiu repor a tranquilidade na Escola? Este compromisso já teve tempo para casar!
- Não conseguiu ainda ter professores e educadores motivados? Talvez o problema esteja, neste caso, na nacionalidade. Acredita-se que os professores que estamos prestes a “importar”, assim como os médicos, nadadores-salvadores, entre outros tantos profissionais, possam vir mais motivados: mais disponíveis para ser remunerados abaixo daquilo a que os portugueses estão habituados.
Os professores são desrespeitados em primeiro lugar pela sua classe política, que mente todos os dias, deturpando a sua imagem, virando a opinião pública contra eles – contra a verdade! – e depois pela sociedade que, incauta, não está disponível para analisar, para conferir, comparar e para concluir.
Até quando Portugal terá Escola? Até quando será Portugal um país?
A urgência das pontes
Podemos entender que uma ponte é uma estrutura que liga dois pontos separados, algo suspenso – que permite o vazio por debaixo de si mesma, conduzindo a outras, admitindo outras passagens – pese embora os seus alicerces firmes e cerrados ancorem a ligação do conteúdo. A sua origem é latina, uma vez que provém do latim Pons.
Precisamos, assim, de pessoas e organizações que sejam pontes e que as façam, sobretudo num momento tão delicado em que a palavra nada vale, em que a verdade é deturpada, a negociação é um monólogo constituído de imposições unilaterais e, apesar do conceito de inclusão ser a cada dia que passa mais valorizado e referenciado, o mesmo é cada vez mais uma miragem, completamente desfasada da realidade.
Que estejam atentos os incautos da sociedade!