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Professores ‘Vintage’ Paulo Guinote

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Ainda estava a mais de uma dúzia de anos da idade que agora tenho e já me chocava a campanha comunicacional lançada sobre os professores, com o objectivo pouco subtil de os menorizar perante a opinião pública quando protestavam contra diversas políticas educativas, acusando-os de estarem velhos, aprisionados por saberes arcaicos e incapazes de se adaptar ao que algumas tertúlias bem-pensantes consideravam ser o século XXI.

Passados esses anos, por maioria de razão, sinto-me directamente visado, por vezes de modo explícito, quando se repete aquele chavão preguiçoso dos “professores do século XX a dar aulas a alunos do século XXI”, para voltar a criticar a classe docente por estar “envelhecida” e, alegadamente, não ser capaz de acompanhar as novidades tecnológicas dos tempos e aquilo que “verdadeiramente interessa aos alunos”.

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Apesar do contexto de carência de professores, esse tipo de atitude parece entranhado em algumas mentes, nem sempre reveladoras de especial juventude no pensamento, visto parecerem discos riscados. Apesar das medidas recentes destinadas a convencer professores aposentados a regressar ao activo ou os que estão a prolongarem a sua carreira, há quem continue a gostar de apontar o dedo aos “velhos” por esta ou aquela razão, como se de fracas relíquias se tratassem e apenas servissem para empobrecer as salas de professores, como fossem mobiliário usado e gasto. Como se não tivessem prestado o seu serviço com dignidade e, embora (como em todos os “equipamentos”), existam alguns com melhor desempenho e maior durabilidade, não dispusessem de capacidades e competências que os “novos” estão longe de ter.

Só que, como sabemos pelo florescente mercado de antiguidades, o que é velho e parece inútil em dado momento, não muito tempo depois passa a ser artigo vintage, de alto valor unitário. O mesmo se vai passar, em breve, com os professores que de excedentários desactualizados, apresentados como dispensáveis, irão ser recordados com nostalgia pelo que tinham, de uma assinalável resistência à adversidade a um conjunto de conhecimentos que podem ser qualificados como tradicionais, mas que dificilmente serão substituíveis em qualquer sistema de ensino que não se limite a algumas competências básicas, ligadas à espuma dos dias da digitalização e da inteligência artificial.

O primeiro-ministro anunciou esta semana que pretende dar “a cada aluno um tutor educativo de inteligência artificial (…) para o ajudar a compreender o mundo”, no que parece ser uma visão de futuro, mas não passa de uma parolice. Não vem longe o tempo em que os envelhecidos professores de hoje, que alguns parecem querer ver partir, serão profissionais vintage invejados ou desejados, em especial pelos alunos que consigam perceber as diferenças, para além das aparências.

Professores ‘Vintage’