Os professores querem “reavivar os problemas que existem na escola pública e que ainda não se resolveram” e estarão hoje, por isso, numa nova ação de protesto, às 15.00 horas , em Lisboa (em frente à Assembleia da República) e no Porto (na Avenida dos Aliados). “É uma manifestação inorgânica, antes das eleições, para pôr a escola pública novamente a ser falada. A luta não está ativa e o que queremos é voltar a chamar a atenção da opinião pública e principalmente dos partidos. Não é uma luta pela luta, mas queremos reavivar os problemas que existem. Estas manifestações são importantes para passar esta mensagem”, explica o professor Vladimiro Campos, um dos organizadores do protesto, que ocorre desligado da organização dos sindicatos.
O docente entende, ainda, ser necessário “um pacto ou um entendimento com todos os partidos políticos” para, “garantir medidas para tornar a profissão docente mais atrativa e para voltar a ter um ensino público de qualidade”. “É importante que se implementem medidas para melhorar a escola pública que não mudem de Governo para Governo. Para que isto seja possível, os partidos devem assinar um pacto”, justifica.
Pedido idêntico é feito por Goreti da Costa, uma das organizadoras da manifestação em Lisboa, salientando a necessidade de “firmar compromissos com todos os partidos políticos antes das eleições do dia 10 de março”. “Os professores continuam mobilizados e ativos. Pretendemos fazer-nos ouvir e firmar compromissos com todos os partidos até lá. Os partidos têm exigido que os professores sejam do século XXI, mas as condições que temos são do século XX e XIX em muitas escolas. Os professores perderam total confiança na política e é necessário um compromisso de todos pelo futuro da escola pública”, esclarece.
A professora, membro do movimento SOS Escola Pública (um grupo de denúncia independente), salienta que a manifestação de hoje ocorre porque é fundamental não deixar cair a atenção sobre os “graves problemas que alunos e professores enfrentam todos os dias”. “ Não aceitamos o baixar dos requisitos da docência. Queremos uma escola pública de qualidade, estável, um novo modelo de avaliação, escolas requalificadas, mais assistentes operacionais e mais segurança nas escolas”, refere.
Goreti da Costa lamenta ainda a falta de apoio dos pais nesta luta. “Os professores gritam pelo apoio dos pais. Estamos embaraçados pelo silêncio dos pais. Não ouvimos nada da Confap sobre os resultados dos testes PISA ou sobre falta de professores, o que não se compreende. O ensino está em estado comatoso e as preocupações dos pais centram-se apenas nas greves”, conclui.
“Estamos a viver a destruição da escola pública”
Ricardo Silva, professor de História há 36 anos, aponta vários problemas do ensino em Portugal e garante: “Estamos a viver um processo de destruição ativa da escola pública”. “A ideia de fazer estas mani- festações surgiu de conversas em grupos de professores no Whats- App e em grupos nas redes sociais. Percebemos que devíamos voltar a fazer-nos ouvir, pois nada ainda está resolvido e temos de continuar a lutar por uma escola pública de qualidade. Por nós e pelos nossos alunos”, explica.
O docente lamenta estar a viver-se um momento no qual “o tema da Educação está em segundo plano”, quando há problemas graves por resolver, como “a qualidade do ensino, a indisciplina, a necessidade de requalificação da maioria das escolas ou a gestão autocrática centrada na figura do diretor da escola”.
“Estamos num emaranhado de problemas complexo, que passa por várias questões diferentes, mas todas elas com grande impacto na qualidade escola pública. Temos, por exemplo, um acelerador de carreiras que é um acelerador de injustiças. O pré-requisito de dar aulas ininterruptamente entre 2011 e 2018 deixa professores de fora com apenas 1 dia de serviço a menos, basta que não tenha sido, nesses 7 anos ,colocado logo a 1 de setembro e já está fora do acesso ao 5.º e 7.º escalões”, exemplifica.
Ricardo Silva acusa o Governo de “manobras de ilusionismo e propaganda política” para manipular a opinião pública em várias matérias. Algo que se passa, segundo diz, também na justificação dada para não ter havido descongelamento do tempo de serviço dos professores. “Os argumentos do Governo são inverosímeis neste ponto quando tenta justificar a diferença entre os docentes das ilhas e do continente. As responsabilidades financeiras são suportadas pela Segurança Social nacional. Não ficam restritas ao Governo Regional, como quiseram fazer acreditar. Estas formas hipócritas de enganar a opinião pública devem ser desmontadas”, refere.
O professor relembra também os problemas recentes com os professores reintegrados na Caixa Geral de Aposentações, que viram os seus pedidos suspensos, apesar das ordens judiciais favoráveis aos docentes. “Esta é outra das razões que nos deixa indignados e nos leva para a rua. Fizeram o mesmo com os serviços mínimos ilegais decretados o ano passado. O Ministério da Educação tem feito reclamações sucessivas nos tribunais, gastando milhares de euros em recursos, e ninguém é responsabilizado”, afirma.
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Ricardo Silva acusa ainda o Executivo de ignorar o “emaranho de problemas da escola pública”, limitando-se a perseguir os professores nos tribunais (a propósito das greves de 2022 e 2023) e a ter “atitudes persecutórias com os professores de baixa”, pondo em causa da legitimidade das mesmas com as juntas médicas. Contudo, o docente garante que os docentes “não querem estar em luta”. “Se vêm para a rua é porque é grave, e é mesmo grave. E os pais também deviam pedir ao Ministério Educação para ter escolas dignas e exigir melhorias na carreira docente, tendo em conta a grave falta de professores em Portugal. Nós não vamos desistir. Por nós, pelos alunos e pelo futuro do país”, conclui.