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Pede-se coragem para não fechar as escolas – Alberto Veronesi

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A 20 de Janeiro de 2020, escrevi a pedir que houvesse coragem para fechar as escolas. Na altura, vivíamos um momento crítico de aumento de casos e pressão hospitalar. A pior até hoje dos quase dois anos da pandemia.

Então, tínhamos passado todas a linhas vermelhas delineadas pelos especialistas; os casos positivos, apesar de bem menores que os de hoje, correspondiam a uma enchente nas enfermarias e nos cuidados intensivos que estava a ser complicado suportar. A vacinação estava ainda a começar, diga-se que mal, e, portanto, o cenário dantesco de há praticamente um ano não é o de hoje.

O Governo insistia em querer manter as escolas abertas, independentemente da gravidade dos acontecimentos, sobretudo pelo facto de as escolas não estarem ainda preparadas para o Ensino à Distância (E@D).

Hoje, relativamente a esse facto, o ponto não é muito diferente, estamos quase na mesma, os computadores demoram a chegar e ainda há muitos alunos e professores sem acesso aos requisitos mínimos necessários para o ensino online.

Mas também hoje temos um cenário ao nível da pandemia totalmente diferente do de há um ano. É hoje bastante mais consensual que, além do adiamento do arranque do 2.º período, não é necessário manter as escolas fechadas.

A população adulta está praticamente toda vacinada e já quase três milhões levaram a dose de reforço, os alunos do 3.º ciclo, a partir dos 12 anos, também foram na grande maioria vacinados. Sabemos também que a variante dominante, Ómicron, apesar de bem mais contagiosa provoca menos doença grave, evitando assim a pressão hospitalar. Mesmo que se saiba que o número de vacinados na faixa etária dos menores de 12 tenha sido um fracasso, e que esse cenário não sofra muitas alterações até ao início do próximo período, sabe-se que esse facto não tem tido relevância no quadro actual de internamentos nessas idades. Relembro que a razão principal para qualquer lockdown que se tenha feito foi sempre a pressão hospitalar. Logo, se esta está controlada, como aparenta estar, não encontro justificação plausível para que as escolas encerrem.

Juntando a isso o mais recente facto que nos indica que a variante Ómicron poderá ser o princípio do fim da pandemia, como aliás refere o virologista Pedro Simas; ou quem admita a estratégia de infecção natural, como o epidemiologista Carmo Gomes, então podemos ter os ingredientes necessários para que o regresso às escolas se possa fazer a 10 de Janeiro em total segurança, bastando para isso manter os hábitos de higiene adquiridos nos últimos dois anos.

Tenho muita dificuldade em subscrever a narrativa de que as escolas fechadas prejudicam em demasia as aprendizagens, que os alunos nunca mais recuperarão estes meses em casa e todas essas dramatizações. Tenho dificuldade porque sei que há dezenas, se não centenas de outros factores que as prejudicam bem mais e há bem mais tempo de forma bem mais vincada, sem que ninguém se inquiete.

No entanto, aceito que o fecho das escolas tem muito pouco de positivo para toda a comunidade escolar, sobretudo quando o cansaço para acatar determinadas directrizes começa a ser visível em todos os sectores da sociedade. Não conheço, admitindo que possa haver, nenhum professor, sobretudo no ensino básico, que considere o ensino presencial substituível por este espectro de E@D que temos assistido.

Há que ter a flexibilidade suficiente para conseguir agir em consonância com os cenários altamente mutáveis a que esta pandemia nos habituou, saber avaliar as variáveis, pesando os prós e os contras e ter coragem para decidir em harmonia com aquilo que dizem os especialistas e não como táctica política.

Há um ano pedia que houvesse coragem para fechar as escolas, hoje sou o primeiro a pedir coragem para as manter abertas. E que se não for pela saúde mental de todos nós, que seja pela economia, que costuma ter mais adeptos. Bom ano!

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