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Pandemia “é oportunidade” para retirar peso aos testes escritos na avaliação

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Nunca um ano letivo terminou desta forma, por isso, a comunidade educativa não estava preparada para o que viria: parte dos últimos dois períodos letivos do ano lecionada através de um computador, um tablet ou fichas de trabalho enviadas por correio. Com a distância, seguiram-se as dúvidas relativamente à forma de avaliar os alunos – com recursos e contextos tão diversos. A grande maioria dos docentes trocou os testes por apresentações, pela valorização da assiduidade e do esforço demonstrado. Diretores e professores consideram que este é apenas um passo no caminho certo, aquele que já deveria ser o da educação, e que as escolas devem aproveitar esta oportunidade para mudar o paradigma.

“Toda a gente dá valor” a um teste escrito, “professores, pais e alunos”. “Até dá a ideia de que se não houvesse testes escritos o aluno não poderia ser avaliado, e pode”, diz o dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

A discussão adensa-se com o anúncio da possibilidade de um próximo ano letivo híbrido (com ensino presencial e à distância), por força da ausência de uma vacina que trave a atual pandemia de covid-19. Pode este critério de avaliação prevalecer com a mesma ponderação? Filinto Lima diz que “há outros critérios que devem ter maior ponderação, como a apresentação oral de trabalhos”.

Esta “é uma oportunidade para todos nós refletirmos e valorizarmos a escola”, acrescenta Paula Carqueja, presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), sem dúvidas de que “o sistema avaliativo deve mudar”. “Será muito mais importante termos uma avaliação permanente dos nossos alunos do que estar a julgá-los por um teste. Porque quando há um teste, estão vários fatores associados a todo o momento e à resposta, o que prejudica toda a avaliação e aprendizagem que um aluno tem vindo a fazer. Há uma desmotivação geral quando um aluno teve um trabalho excelente – no qual se esforçou, para investigar e ser criativo, tudo o que se pede agora [no mercado de trabalho] – e depois falha num teste de memorização, de atenção”, explica.

O trabalho de um professor deve passar por “privilegiar a proximidade com o aluno, a aprendizagem contínua”, a única forma de “perceber se há dificuldade na aquisição de conhecimentos” e de “valorizar a sua participação ativa”, diz a dirigente da ANP. “Assim, estaríamos a dizer ao aluno: ‘tu és sempre importante'” e não apenas a considerá-lo no derradeiro momento de expor os seus conhecimentos num teste comum. “Devíamos desconstruir completamente o sistema.”

E Filinto Lima acredita mesmo que isso está, agora, mais perto de mudar. Todos os anos, “por volta de julho”, chega às escolas “um documento que se chama Organização do Ano Letivo (OAL), que prepara o ano letivo seguinte” e que “tem sido mantido nestes últimos anos. “Mas acho que, este ano, este documento deve ser alterado”, em grande parte porque deverá “prever a eventualidade do ensino híbrido”, diz o presidente da ANDAEP.

Um cenário que, aliás, fez saber o ministro da Educação, numa entrevista à rádio Renascença e ao jornal Público. “Temos que nos preparar para em setembro – ou não em setembro, mas se calhar em outubro, ou novembro – termos o que os ingleses designam por be learning, uma conjugação entre ensino à distância e ensino presencial”, anunciou.

E os exames? “Sim, devem continuar a existir”, não hesita em dizer a representante de professores Paula Carqueja. Ao contrário dos testes escritos realizados durante o ano letivo, “o exame não funciona como uma percentagem superior” a todos os restantes critérios envolvidos na avaliação final de um aluno, “é simplesmente mais uma prova”. E “continua a ser um instrumento de equidade nacional”.

No entanto, é apologista de que a realização dos exames nacionais deva prosseguir “nos moldes em que ocorreram neste ano”, em que os estudantes fazem apenas os exames que necessitam para concorrer aos seus cursos na faculdade.