PÁGINA 6 – OS MEUS HERÓIS
Contrariando, por boas razões, o que lhes prometi, dedico esta página do “Testamento vão” aos meus heróis, àqueles que souberam erguer o cérebro acima do medo, pôr o bem coletivo acima dos mesquinhos interesses individuais.
Esta página pertence a quem se afirmou mais alto, a quem se afirmou maior: o Alberto Veronesi, a Aldina Matos, a Alice Pontes, a Amélia Fortuna, a Ana Cristina Rodrigues, a Ana Patrícia Pires, a Ana Tereza Correia, a Ana Virgínia Almeida, a Branca Dias, a Carla Santos, o Carlos Cunha, a Catarina Pimenta, a Cláudia Machado, a Cláudia Martins, a Dina Cruz, o Francisco Anjos, a Helena Goulão, a Inês Botelho, a Irene Almeida, o João Sousa, o José Alberto Araújo, a Lídia Costa, o Luís Gomes, Maria de Jesus Gaspar, a Maria do Carmo Silveira, a Maria Helena Dionísio, a Maria João Costa, a Maria José Afonso, a Maria Júlia Batista, a Maria Luísa Araújo, a Maria Manuela Lourenço, a Maria Margarida Nunes, a Maria Otília Figueiredo, a Maria Teresa Soares, a Miriam Correia, a Patrícia Braga, a Paula Cristina Alves, a Rafael Lopes, a Sandra Charrua, a Sandra Dias, a Silvina Ribeiro, a Vanda Matela e a Vânia Mota.
Sei que muitos outros não puderam fazer parte deste grupo, devido ao conluio de muitos diretores, que souberam concertar-se para não atribuírem serviços mínimos aos “suspeitos” de serem capazes de desobedecer. Como não tenho conhecimento de todos os casos e não quero excluir ninguém, represento-os num só nome, de alguém que conheço muito bem, alguém que sei que só não está neste grupo porque, efetivamente, lhe foi negada essa possibilidade: a Anabela Magalhães. Tenho, no meu coração, um feérico salão só para ela.
Prova da discricionariedade reinante (abençoada, ao que parece, pelo Rei Sol) é o número daqueles que têm, efetivamente, falta injustificada pelo “crime” cometido. Cabem numa mão. Apesar disso (ou talvez por isso), continuam “sós”, contra o mundo, a exigir que a legalidade impere, que a moralidade se afirme, que a justiça seja feita. Contam com o apoio dos restantes desobedientes (temo-nos uns aos outros) e, a título individual, com o apoio jurídico do sindicato que convocou a greve. Os restantes, apesar da ilegalidade por eles sempre evocada e já declarada pelo Tribunal da Relação de Lisboa; apesar de se tratar de algo que a todos diz respeito, continuam quedos, mudos, aparentemente alheados, como se isto estivesse a acontecer no estrangeiro (os professores andarão sempre à deriva, enquanto os sindicatos não forem capazes de remar, juntos, para o mesmo lado). Contam também com o silêncio indiferente de todos aqueles que, desde a primeira hora, se demitiram, se alhearam, se anularam, se fizeram invisíveis, se apagaram do mundo.
“Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena.” E esta alma, a quem eu, hoje, presto homenagem, é enorme. Pequeno é, infelizmente, o grupo daqueles em quem tamanha alma cabe. Se assim não fosse, não estaríamos, como estamos, a beijar a terra e a comer pó. Estaríamos, de corpo inteiro, de alma livre, como verdadeiros mestres, a velejar em céu azul.