As escolas estatais andam agitadas, problemas antigos não resolvidos acabam sempre por eclodir e cada vez com maiores estragos para os direitos dos estudantes e famílias, para a vida dos professores e para a boa organização das escolas.
Como já quase todos perceberam, o movimento sindical está mais dinâmico do que nunca e conseguiu reinventar-se com uma frescura e arrojo que eram necessários e estão a fazer mossa no Governo e a aumentar a mobilização da classe.
O que se passa hoje, como há cerca de vinte anos, quando as escolas também explodiram de contestação, é fruto do desrespeito, da falta de consideração, da total ausência de compreensão sobre o papel dos professores, das suas aspirações e expectativas como profissionais e cidadãos. Na época, um alto responsável comentou que “os professores querem que andem com eles ao colo”, como se tudo se resumisse a uma coisa tão prosaica.
Mas quem não aprecia ser acarinhado, reconhecido, apoiado no seu trabalho quotidiano? Quem não se revolta por não ver o tempo de carreira reconhecido, não conseguir ter estabilidade familiar, viver mergulhado em burocracia, ver a remuneração cada vez mais insuficiente, não acreditar no sistema de avaliação, não ter quaisquer perspectivas de conseguir fazer uma carreira recompensadora?
Andam por aí uns propagandistas a demonizar os professores, a acusar os sindicatos de agitação, os docentes de falta de consciência profissional e cívica, quando deviam olhar para o outro lado da realidade e perguntar-se, simplesmente, que fundamento têm as reivindicações, por que razões tantos professores aderem às greves e ao movimento de contestação.
Há muitos anos que tenho para mim que os sucessivos responsáveis do ministério têm falhado redondamente não apenas nalgumas reformas, mas também na gestão dos recursos humanos docentes; nenhum gestor, de qualquer nível, obtém qualquer resultado positivo se não se assumir como um líder empático, capaz de perceber as angústias, os desejos, as necessidades e as expectativas dos membros das suas equipas, e isto tem sido sempre o contrário do que os sucessivos ministros têm feito.
Ninguém se ganha para uma acção na qual não se sinta parte activa, os professores são pessoas e como tal têm de ser respeitados, reconhecidos e acarinhados e como profissionais ouvidos e valorizados na sua participação no colectivo educacional. As escolas não funcionam sem professores e nunca poderão melhorar com profissionais mal pagos, desrespeitados, obrigados a cumprir sem nunca serem chamados a dar opinião nem a participar de forma activa na definição das políticas que visem a construção da escola do futuro. É por isto que muitas reformas falham rotundamente, não basta decidi-las, é preciso que quem as implementa esteja convencido da sua bondade e para isso é necessário o envolvimento dos docentes.
Aqui chegados, é forçoso concluir que necessitamos de mais diálogo e menos gestão top down, precisamos, sobretudo, que os decisores percebam a importância dos professores para a construção da sociedade do futuro, mas para isso é urgente mudar o presente.