Numa altura em que começamos o desconfinamento e começamos lentamente a tentar regressar ao normal, ao novo normal, é perfeitamente legítimo que o medo nos acompanhe. Lei o que diz Eduardo Sá…
Os medos são sempre um bocadinho irracionais. Mas nunca são estúpidos. Mesmo que pareçam… E nunca “falam direito”. São, assim, como uma “sopa da pedra” de muitas coisas que nos foram “marcando” pela dor e que, todas juntas, se condensam num só medo. Ao contrário do que parece, os medos são uma questão de sabedoria. Tanto assim é que, quanto + velhos somos, + medos descobrimos. E (valha a verdade) + assumimos. O tempo ajuda-nos a perceber que só as pessoas corajosas assumem o medo. É preciso ter coragem para ter medo!
É claro que os medos são “contagiosos”. Pelo menos é assim que muitas mães os acham. Os filhos são a caixa de ressonância dos medos dos pais. Numa fracção de segundo, os filhos lêem os olhos dos pais e reagem.
É por tudo isto que gosto dos adolescentes que se recusam a sair à rua. E gosto quando parecem fazer do quarto o seu bunker favorito. E que repitam que amam estar em casa. E que atormentem os pais com exigências de higiene. E que, nesta altura, se recusem a estar com os seus amigos fora das redes sociais. E que sejam, em cada casa, a consciência crítica do medo.
Ao contrário da forma como se “vendiam”, os adolescentes são, sabiamente, medrosos. Só me preocupa quando que os pais cedem aos seus medos. Porque, à luz daquilo que os filhos sentem, pareçam conhecê-los tão mal que, ao contrário do que desejam, é como se lhes dissessem “Por favor, não estejas assim porque os teus medos me assustam.” Quem não conhece a password dos nossos medos e não sabe o jeitinho de os resolver não gosta de nós. É ± assim que eles põem as coisas.
Não querem sair? Paciência. Vão ter que sair. O truque passa por não desistir das exigências. Não esmorecer! Os medos precisam das pessoas ao pé das quais eles fiquem acanhados. Bem trabalhados, os medos dos adolescentes são uma mais-valia para o seu “sistema imunitário”. Para toda a vida. Os medos nunca se perdem. Aprende-se a conviver com eles. E por cada medo que se “vence” mais forte se fica para vencer o que vem a seguir.
Fonte: eduardosa.pt/