O título deste texto foi descaradamente roubado de um artigo publicado, há uns dias, na revista The Atlantic. Ou melhor, mais ou menos roubado. O título original diz algo como: “Os jovens dos colégios de elite que não conseguem ler um livro.”
Assinado por Rose Horowi tch, é um susto de reportagem apesar de, na verdade, tornar somente mais claro aquilo de que temos vindo a desconfiar: a leitura de livros (entre outras atividades) foi ultrapassada pela necessidade constante de notificações que encham os cérebros de dopamina. Horowitch falou com mais de
30 professores de universidades em redor dos EUA, e todos eles dizem o mesmo: os alunos que lhes chegam, venham de colégios particulares ou de escolas públicas, não conseguem ler livros de uma ponta à outra, e têm zero complexos em admiti-lo.
Um dos professores de Literatura citado pela jornalista refere mesmo que desistiu de dar a Ilíada na versão completa. Pede Apenas aos alunos que leiam determinados cantos do clássico de Homero, “esperando que alguns deles leiam a obra completa”.
Estudos científicos revelados em 2023 davam conta de que o nosso período de atenção – aquilo a que se chama “attention span” – está a encolher a cada ano que passa: a média atual ronda os 47 segundos. Que é como quem diz: não conseguimos
concentrar-nos mais do que esse tempo numa tarefa (e até pode ser o ecrã de um telefone) sem que a nossa atenção seja desviada para outra coisa qualquer. Esta procura com jovens que, conta ainda a The Atlantic,não conseguem terminar de ler, sequer,
um soneto – são poemas com 14 versos!
Este texto da revista norte-americana chamou-me a atenção, em particular, porque há cerca de uma semana entrei numa livraria e ouvi uma jovem dizer a dois colegas, com quem estava a olhar para as estantes coloridas: “Eu odeio ler. Nunca li um livro inteiro. Tenho lá tempo para isso!” Lembro-me de que parei, surpreendida com a afirmação, e estive quase para lhe perguntar com que tarefas tão intensivas ocupava os dias. Mantive-me em silêncio e fui buscar os livros que queria levar para casa, enquanto me vinha à memória uma frase que, recorrentemente, as amigas da minha filha de 8 anos dizem quando estão lá em casa: “Para que é que tens estes livros todos?”
Poderia ser apenas da profissão, mas a verdade é que cresci numa casa onde a leitura sempre foi incentivada: não só porque era um método útil para viajar sem sair do sofá e não havia dinheiro para mais viagens, portanto era incrível –, como era o caminho necessário para aumentar vocabulário, ajudar no pensamento crítico, incentivar a reflexão e o conhecimento. Aliás, muitas das queixas que hoje se ouvem dos professores, aqui em Portugal, prendem-se, precisamente, com a falta de capacidade dos mais novos para ter um raciocínio coerente quando estão a defender uma ideia – muitas vezes, abandonam a discussão porque não querem pensar mais –, com a dificuldade na compreensão de textos simples, a falta de vocabulário, enfim. Os nossos cérebros estão a ficar, temo, mais preguiçosos do que
seria recomendável numa altura em que a sociedade – e a Democracia – precisam de sentido crítico e de criatividade. Com o’Natal a um mês de distância, trago-vos este pedido em jeito de desafio: vamos encher os nossos jovens de livros, e vamos tentar
ensinar-lhes a importância da leitura e da reflexão. Porque, sobretudo, esta última, nunca foi tão importante para a sobrevivência das nossas comunidades.