Sabe-se, desde o Príncipe de Maquiavel, que “os inovadores criam inimigos em
todos os que prosperam sob a velha ordem”. Daí que seja pertinente procurar saber
quem é que prospera na velha ordem educativa. Ensaiemos algumas hipóteses.
Na velha ordem prosperam os partidários do centralismo, mesmo quando proclamam
as virtudes da descentralização e da autonomia. Prosperam quando se julgam
insubstituíveis, quando mandam aplicar urbi et orbi as regras e os procedimentos que
fazem a igualdade formal e a injustiça.
Prosperam as indústrias de explicações privadas que se alimentam da selectividade
do sistema e aumentam a desigualdade de oportunidades.
Prosperam os amantes da rotina, da certeza, da estabilidade e do statu quo que preferem
as aparências e o faz-de-conta, o consenso estéril e a estabilidade que a nada
conduz.
Prosperam os que estão professores à míngua de alternativa profissional, os gestores
sem carisma, os profissionais acomodados.
E todos estes realizam, a seu modo, a “fagocitose do inovador”. Quando um professor
executa uma actividade inovadora que rompe com as rotinas e interpela os seus
colegas, estes começam por reagir desvalorizando quem faz a proposta e produzindo
um sem-número de estratégias destrutivas visando a manutenção da velha ordem. Assim, é frequente, em relação a todos quantos apontam uma inovação:
– aplicar-lhe uma etiqueta desqualificadora: – oh, isso não lembrava nem ao menino Jesus.
– acusá-lo de pretender chamar a atenção: – ó pá, vê-se mesmo que é para dares nas vistas.
– dizer que isso já foi tentado sem êxito vezes sem conta: – há uma investigação americana, que li não sei aonde, que diz
que isso não dá resultado nenhum.
– chamar-lhe ingénuo: – está-se mesmo a ver que não dás aulas há muito tempo.
– dizer que é uma importação dos países desenvolvidos do centro: – Isso é a mania das importações; cá não dá resultado.
– dizer que tem problemas emocionais em casa: – coitada, não consegue entreter o homem e vem para aqui com estas inovações.
– negar a viabilidade: – não há condições, não há recursos.
– dizer que não está bem elaborada: – tem uma série de defeitos e insuficiências de concepção.
– levantar suspeitas sobre a sua finalidade: ele quer mas é tirar dividendos pessoais da proposta apresentada.
– sublinhar os seus graves e nocivos efeitos secundários: – a ser aprovada a inovação que o colega apresentou, vai gerar um conjunto significativo de efeitos perversos. (A partir de Santos Guerra, 2000)
Estas acusações e desqualificações fazem com que os inovadores depressa se decepcionem uma vez que, para além do seu esforço, ainda por cima são castigados. É por isso urgente criar condições para que os inovadores prosperem e o rebanho tenha cada vez menos seguidores.
José Matias Alves (2001)
Fonte: terrear