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Os docentes que temos e que queremos!!

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O(s) desconfinamento(s) que fomos obrigados a observar, no tocante à Educação, tiveram um efeito distrator face a um dos problemas que sobressaiu poucos dias após o arranque do ano letivo: algumas escolas, particularmente em determinadas zonas do país, não tinham professores para lecionar várias disciplinas.

Mas o problema afigura-se muito mais grave: a escassez de docentes é uma realidade que se vai instalando gradualmente. Este facto impõe revitalizar a discussão, pois prevejo uma pandemia na Educação, a menos que se unam esforços para a dirimir. E já há vacina! Não parece haver, para já, vontade de a aplicar…

Os nossos jovens, bem informados e cientes da realidade, não se encontram motivados para abraçar a carreira docente, dado a instabilidade que a caracteriza, acrescendo a certeza de virem a lidar com constrangimentos e injustiças várias, que contribuem marcadamente para a tornar pouco aliciante e/ou rentável; Não se estranha, assim, que os cursos universitários via ensino não registem candidaturas ou que estas se concretizem na insípida narrativa dos números. Vislumbram-se alternativas com maior índice de oportunidades de sucesso e realização noutros cursos que os demovem de ingressar nesta tão nobre e imprescindível profissão.

Numa mesma lógica de evidências, os professores que se encontram no ativo recorrem, cada vez mais, à licença sem vencimento de longa duração, que lhes possibilita experimentar outras áreas de atividade, na tentativa de garantirem melhores condições de vida e uma profissão gratificante onde as funções que desenvolvem mais comummente são reconhecidas.

E, porque não há duas sem três, sentimo-nos estupefactos e impotentes perante a tirania e ingratidão do sistema educativo em relação aos professores contratados!

Tirano, pois, a 31 de agosto de todos os anos, descarta-se destes profissionais, empurrando-os para o desemprego. E, na maioria dos casos, volta a necessitar deles poucos dias volvidos, quantas vezes acenando-lhes com horários completos e anuais.

Ingrato, por dispensar professores muito experientes, altamente habilitados, depois de fazer bom uso dos seus serviços. É ético um país, onde a escassez de docentes é visível, tratar assim os seus professores? E ainda que percebendo a necessidade de retirada para outras áreas profissionais, esta gera, inevitavelmente, o enfraquecimento do sistema de ensino nacional.

Se o caminho não for atalhado, assistiremos muito em breve a práticas do século passado, em que em plenos anos 80 e 90 chegavam às escolas professores com habilitações mínimas. Queremos a desqualificação de uma profissão que se eleva pelo desempenho dos melhores?

Nas mãos de quem comanda os destinos no nosso país estão as soluções possíveis, norteadas pela vontade de valorizar e dignificar a carreira docente. E urge fazê-lo com medidas concretas.

A avaliação de desempenho docente carece ser alterada, pois tal como está serve apenas interesses insensatos, criando fortes injustiças para quem se excede pelos seus alunos, em prol do aumento do sucesso escolar e na diminuição da taxa de abandono escolar; as condições de trabalho devem ser revistas, não sendo mais plausível os professores lecionarem para centenas de alunos, trabalharem dezenas de horas semanais – muito para além do número dos tempos legais – obrigados a um incomensurável amontoado de funções burocráticas que eleva o respetivo trabalho a patamares administrativistas, em detrimento do dedicado à nobre arte de ensinar.

Por isso, devo questionar: é ou não a Educação prioridade para o governo do país? Permitiremos a extinção da carreira docente?

TSF