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Os “discos pedidos” na educação – Maria Joana Almeida

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A Escola é palco de vários fenómenos, que se comportam por vezes como um vírus. Vírus que nem sempre matam, mais moem. Um deles pode ser facilmente intitulado de “discos pedidos”.

Escola tem sofrido sempre de uma metáfora aproximada a um saco de boxe onde cabem incontáveis frustrações, contextos, vidas e ideologias. Há lá organismo mais complexo do que este. Quando se inicia o 1.º ciclo uns pedem à Escola que haja criatividade, que o foco seja o carácter mais lúdico, outros disciplina, outros uma atenção redobrada no aprender a ler e a escrever. Há aqueles que criticam o método de ensino, outros que gostam dele. Há mudanças ao longo do ano nos discos pedidos, dependendo de como o processo vai evoluindo. Há também, a mais recente moda: o questionar de notas e o questionar da autoridade. Não seja o professor seguro do seu trabalho e encontra-se rapidamente num círculo apertado tentando atender a todos os pedidos querendo agradar a gregos a troianos em vez de ser fiel a si próprio. A diversidade tem tanto de bom como de extremamente exigente. Nem sempre é para todos.

No 2.º ciclo, nesta dança dos pedidos, os colegas e pais culpam o 1.º ciclo pelas falhas ignorando, tantas vezes, o trabalho que também lhes compete. No 3.º ciclo, porque não houve tempo de voltar atrás no 2.º, colocam-se as mãos na cabeça pelas lacunas que encontram, Vasculha-se o Decreto-Lei 54/2018 para saber como lidar e tentar aguentar as fragilidades. No secundário verbalizam-se expressões de incredulidade da má preparação de muitos alunos que irão colocar em causa, muito possivelmente, os resultados pretendidos nos exames. Mais uma vez vasculham-se papéis, mais do que se vasculham a si próprios de modo a trabalhar e não contornar estas dificuldades.

Chegam os exames, os Conselhos de turma pegam nas normas e tentam encontrar, com o mesmo entusiasmo que a comunicação social tenta encontrar um português infetado com o Covid-19, condições especiais, adaptações que possam ser realizadas de modo a existir um mínimo de sucesso. Pais pedem adaptações, mesmo que não tenham sido utilizadas, por não existir necessidade ao longo do ano letivo, na esperança que o exame, que vale apenas 30%, permita ao aluno ter sucesso. Vamos de discos pedidos em discos pedidos ignorando tempos preciosos para trabalhar dificuldades. Que competência estamos a trabalhar num aluno que demonstra, por exemplo, dificuldade em gerir o tempo, se a opção dada é conceder sempre mais tempo arbitrariamente? Da mesma forma que não são feitas adaptações ao longo do ano letivo, por não se considerarem necessárias mas são pedidas nos exames para salvaguardar notas. O que estamos a ensinar ou a transmitir com estas decisões? Este não pode ser um sistema que trabalha pela prevenção tardia e por pedidos.

Se o caminho fosse maioritariamente esse, mais certezas existiriam na hora de selecionar e perceber as adaptações necessárias do que adaptar algo a alguém só porque tem um papel com um rótulo. Porque sim, “os NEE” ainda, em muitos casos, continuam a ser órfãos de nome e de identidade própria com semelhanças a um determinado grupo étnico numa escola, costumes, ideias e uma cultura igual, onde tudo precisa de ser adaptado. O que é absolutamente irreal e lastimável.

Os discos pedidos não promovem danças apelativas ou ritmadas, saem de tempo e tornam-se fracassos. A qualidade e o rigor vêm de construções entrelaçadas ao longo dos anos que não se boicotam em pedidos mas em análises e conhecimentos que escolhem, com mais segurança, o ritmo certo.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Fonte: Público