Este terceiro período foi único na história, sobretudo pela situação pandémica que ao antecedeu. No final do segundo período vimo-nos todos obrigados a passar do ensino presencial, zona de conforto, para o ensino remoto, nem à distância, nem a distância, apenas remoto e de emergência.
É assim que o quero classificar, emergência porque soubemos todos nós professores passarmos para a linha da frente no combate à falência do sistema, sem a boa vontade, competência e espírito missivo o sistema de ensino teria falido. Que tenham todos consciência disso!
Não vou querer aqui esmiuçar o papel do Ministério da Educação neste processo todo, nem sequer classificar a sua postura, quero focar-me em algo mais importante. A avaliação dos alunos no terceiro período!
Sem coragem para dar como terminado o ano letivo, fazer passagens administrativas e empurrar para setembro os exames de acesso ao ensino superior e coloca-los sobre a tutela das próprias Universidades, o Governo foi-se pondo a jeito, talvez ingenuamente, para ser o maior impulsionador do agravamento das desigualdades, a exclusão de muitos alunos sem acesso e para a injustiça criada por uma avaliação feita remotamente.
Os professores vão avaliar o quê?
Uma avaliação não deve ser vista como um fim mas como um processo, a avaliação não é uma nota na pauta, é todo o processo, todo o percurso do aluno. Creio que seja aqui que começam as injustiças, que percurso visível fizeram os alunos, como os podemos avaliar?
A avaliação deve ser justa e objetiva e no ensino de emergência faltam-nos elementos para sermos justos a avaliar!
A partir do momento que o Ministério da Educação assume que o terceiro período deve continuar e ser um período de aprendizagem, e não só de reforço de conteúdos, deve ao mesmo tempo repensar a forma como vai avaliar.
Foi isso que fez. De acordo com o documento Princípios Orientadores para uma Avaliação Pedagógica em Ensino a Distância (E@D), devemos repensar o processo de ensino/aprendizagem, adaptando critérios e ponderações como tentativa de tornar todo o processo o mais equitativo possível.
Mas como faremos isso, por exemplo, ao nível do 1.º ciclo? Estamos a falar de alunos, na sua maioria, pouco autónomos na manipulação das novas tecnologias, estamos a falar de alunos que dependem dos pais para trabalhar (1.º e 2.º ano). Avaliamos o empenho de quem? Dos pais? Consideramos ou não as presenças nas aulas síncronas? E os que não foram, podem acarretar com essa culpa?
Quantos alunos estamos a excluir à priori? Será que a avaliação será justa este período? Creio, francamente que não!
Será que a maioria dos professores está preparado para avaliar à distância? Como?
Acho que deveríamos ter assumido a emergência da situação, percebermos que ensinar à distância não se aprende em 2 dias e que por isso para quem não teve tempo de aprender como se faz ensino à distância devia ter a humildade de perceber que também não será capaz de avaliar…não de uma forma justa!
Bem sei que a tutela, que durante 5 anos pressionou tudo e todos para avaliarmos por cima, impedindo, através de DL e burocracia, que os alunos sejam retidos, vêm agora ameaçar com inspeções, mas isso não nos deve demover do nosso sentido de justiça!
Não vamos prejudicar ninguém! Percebam isso! Não é justo um aluno ser prejudicado porque não assistiu às aulas síncronas porque não tem PC ou porque os pais nesse momento estavam também em teletrabalho com o único computador do agregado. Todos nós professores percebemos rápido que esta situação iria criar ainda maiores desigualdades. Também não iremos inflacionar notas, iremos ser justos e isso implica que iremos “manter” a nota dos 2/3 do ano já decorridos!
Neste terceiro período, ao nível do primeiro ciclo, pouco há para avaliar, talvez empenho, autonomia, pouco mais!
Concluindo, acredito que todos os professores irão classificar os alunos tendo por base o conhecimento prévio que tinham deles…problema seria se não tivéssemos 2/3 do ano decorridos e não conhecêssemos os alunos!