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Nem sempre as escolas com melhor ranking são as melhores escolas – Eduardo Sá

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Nem sempre as escolas com melhor ranking são “as melhores escolas”. Mesmo quando se compara o sucesso educativo com base nos resultados dos exames nacionais. Apesar daquelas que têm melhor ranking nesses resultados serem escolas privadas, isso não quer dizer que elas sejam (sempre) “as melhores” escolas. Há tantos aspectos e tantas desigualdades que separam as escolas públicas das escolas privadas – e, dentro de cada um desses grupos, tantas singularidades, considerando cada escola per se – que um único ranking para comparar todas as diferenças e as “normalizar”, dividindo as escolas entre as que têm “boas notas” e as que têm “más notas”, pode fazer dos rankings uma forma “objectiva” de nos equivocarmos, afunilando nas notas dos exames o essencial do sucesso educativo. Aliás, se as notas nos exames terão deixado (felizmente) de ser, para os nossos filhos, o único factor de transição entre alguns ciclos de estudos, as notas nos exames também não podem ser aquilo com que, hoje, mais se “avalia”, publicamente, uma escola. Os exames são importantes provas de aferição (macro) do ensino. Mas não é justo que as notas nos exames sirvam para que falemos do “top das escolas”. Ou d’ “as melhores escolas”, por exemplo.

Porque nem sempre se pode comparar escolas que (às vezes) podem escolher os alunos que pretendem ensinar com escolas que os aceitam a todos, independentemente de terem insucesso escolar, necessidades educativas especiais, ou de serem casos com “necessidades sociais”. Ou, ainda, de necessitarem de um apoio permanente da educação especial. Nem se podem comparar turmas que, por vezes, são pequeninas, com turmas que, tomando alguns exemplos, têm o dobro do número desses alunos. Nem equipas de professores estáveis, identificadas com um determinado projecto educativo, com professores que, hoje, estão numa escola e, “amanhã”, noutra, a muitas dezenas de quilómetros da primeira. Nem escolas quase exclusivamente preenchidas com estudantes da classe média com escolas onde predominam crianças, socialmente, carenciadas. Nem escolas onde os pais dos alunos têm, sobretudo, formação universitária com escolas em que eles têm, no essencial, habilitações académicas que se situam alguns “degraus” abaixo desse patamar.

Não transformem, por favor, o ranking dos resultados nos exames no ranking das melhores escolas! Mas nada disto pressupõe que se tire o mérito às escolas privadas pelos resultados dos seus alunos, considerando os exames do terceiro ciclo e do ensino secundário. Tentem, antes, com humildade, esbater as distâncias que forem possíveis de esbater entre as escolas públicas e as escolas privadas. Em relação à autonomia da sua gestão. À constituição das suas equipas docentes. Aos incentivos e aos recursos que são oferecidos aos professores. Em relação à sua formação. Em relação às equipas de educação especial que colaborem com todas as escolas, sejam elas públicas ou privadas. Em relação à atenção proactiva aos alunos que manifestam dificuldades escolares. Etc.

Os rankings não podem ser, com a conivência de todos, o quadro de honra das escolas. Até porque são, porventura, o instrumento mais precioso para que possamos querer para as escolas públicas as coisas boas das escolas privadas. E para as escolas privadas muitos dos méritos das escolas públicas. Os rankings podem ser um instrumento amigo do esbatimento das desigualdades entre as escolas. Porque a escola é, toda ela, um serviço público. Em nome da escola que todos queremos para todos os alunos; estejam eles em que escola estiverem. Os rankings podem ajudar-nos a querer o melhor das melhores práticas para todas as escolas! Assim as escolas públicas queiram aprender com as escolas privadas. E as escolas privadas com as escolas públicas.

Fonte: EduardoSá