“São escolas à beira da rutura”, onde se esperam “professores bombeiros” para substituir aqueles que faltam. O retrato é feito por Nuno Reis, diretor do Agrupamento de Escolas de Portela e Moscavide.
Quatro semanas depois do regresso às aulas, o agrupamento que integra cinco escolas -quatro básicas e uma secundária – continua com centenas de alunos a serem afetados pela falta de professores e assistentes operacionais.
“Ao todo, faltam professores a 33 turmas: 16 na Escola Secundária da Portela e 17 na Escola EB 2,3 Gaspar Correia. Temos também o problema de alguns professores estarem em situação de atestado médico e outros estão confinados. É uma situação que nos preocupa, porque para essas turmas não temos solução”, explica o responsável.
Se não fosse a pandemia, a falta de docentes poderia ser resolvida como noutros tempos: distribuindo os alunos sem professor por outras turmas. No entanto, com as escolas a funcionarem nesta altura em “turmas bolha”, as salas estão já lotadas e não sobram alternativas além do “desgaste e sacrifício” da comunidade educativa.
“Já tivemos de pedir aos encarregados de educação para que os alunos ficassem em casa, porque não temos forma de substituir os professores. Esperamos agora ter um professor que, como costumo dizer, vai funcionar como um bombeiro, um professor do 1.º Ciclo que será contratado com a bolsa de escola, para que possa dar apoio aos alunos normalmente e substituir qualquer outro professor que falte”.
Certo é que há disciplinas em que “já não existem professores para apagar o fogo”. É o caso de Informática, Biologia, Matemática ou mesmo Geografia. Esta última, segundo Nuno Reis, parece mesmo não ter solução à vista.
“Por exemplo na Geografia, o Ministério da Educação já não tem professores para colocar. É uma situação que nos está a preocupar bastante e estamos apenas a aguardar um momento em que possamos ser nós a resolver esse problema, no sentido de podermos partir o horário em falta e atribuir parte desse horário a cada um dos professores do quadro do agrupamento”.
À falta de professores no Agrupamento de Escolas de Portela e Moscavide, junta-se a falta de assistentes operacionais, com a maioria das escolas a ter, em média, um funcionário por cada 100 alunos.
Muitas delas, não conseguem sequer ter um funcionário nos portões para controlar as entradas e saídas. Na Escola Básica Quinta da Alegria, por exemplo, foi a própria associação de pais a intervir e a colocar monitores nas escolas.
“No período da manhã, quem faz um dos portões são os próprios professores. Na parte da tarde, foi graças ao apoio das associações de pais que temos agora monitores que fazem a entrega dos alunos ao final do dia aos encarregados de educação. Mas não sei por quanto mais tempo vamos ter as escolas abertas”, relata.
“É um problema que já se alonga no tempo“, atira Carla Travessa, presidente da Associação de Pais da Escola Secundária da Portela, que questiona: se as assistentes operacionais já são poucas para conseguir higienizar as salas, como é que vão estar atentas a eventuais acidentes lá fora? Os alunos ficam desamparados!“
Já a carência de professores, sentida sobretudo na Grande Lisboa, é uma das questões que mais preocupa os pais tendo em conta que alunos do 9º, 11º e 12º anos têm exames nacionais. Carla Travessa acusa o Governo de “falta de compromisso” e “falsas promessas”.
“Já no final do ano letivo passado houve problemas nas aprendizagens e a promessa foi de que elas seriam recuperadas neste início do ano letivo, só que com a carência dos professores, será difícil. Além de que uns alunos recuperam e outros não, não estando em pé de igualdade. São alunos do secundário que têm de estudar para o acesso ao ensino superior, é também do futuro deles que falamos. Já tentámos entrar em contacto com o Ministério da Educação, mas não obtivemos resposta“, lamenta.
No passado dia 9 de outubro, saiu a 5.ª bolsa de recrutamento de docentes. À Renascença, o Ministério da Educação justificou a falta de professores no país com o “número anormalmente alto de não aceitações de horários, atenta a situação de pandemia que leva os docentes a não quererem deslocar-se das suas áreas de residência”.
Quanto à falta de funcionários, o Orçamento do Estado de 2021 prevê a contratação de mais três mil operacionais, mas só em janeiro.