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Não São Só Casos Residuais

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Finalmente o Ministério da Educação(ME) veio a público repudiar a violência no meio escolar, quanto a mim apenas por se tratar de uma, condenável, agressão de um professor a um aluno. Infelizmente, o contrário “já faz parte” e por conseguinte não dá direito a comunicado.
De qualquer forma, há que louvar a celeridade com que o ME o fez pois é de facto um acto injustificável e não será pelo contrário acontecer demasiadas vezes que atenua a sua gravidade.
O que me impressiona é que ouve-se falar, há anos, na necessária mudança de paradigma da escola, e nas mudanças sociais e familiares que obrigam a fazer-se essa mudança.

Desde dos finais dos anos 90 que se alteram estatutos dos alunos apoiados em teses mais ou menos dominantes que “ensinam a mudar o chip”, indicam os novos horizontes educacionais sustentados em menor responsabilização do aluno, em maior autonomia curricular, flexibilidades, transversalidades, tudo termos que foram refrescados e colocados a circular nas bocas dos atuais governantes e consequentemente no mundo escolar.

Porque será que ninguém quis saber dos sinais?

Já na época, a indisciplina galgou em casos, não necessariamente em números, mas dantes, como agora, assobiou-se para o lado!

Foram muitos os professores, apelidados de retrógrados “velhos do Restelo”, que alertaram para o perigo dessas práticas de século XXI, porque eles é que estiveram, estavam e estariam no terreno no decorrer das famosas modernizações.  Fazer a mudança de paradigma sim, mas saber fazê-la!
Sabe-se que a indisciplina acontece por razões internas e externas, não há um padrão do conceito. Os alunos têm, na generalidade, um conceito de disciplina bem mais alargado que a maioria dos professores. E é aqui que reside o maior problema, professores e alunos têm para o mesmo conceito, indisciplina, significados completamente diferentes.

Para os professores a indisciplina é o não cumprimento de regras estipuladas, no caso em contexto escolar, como por exemplo falta de compromisso com a escola, falta de respeito às pessoas, não cumprimento de normas, a desorganização, a agressividade, a falta de limites, o comportamento inadequado, a falta de vontade e o não participar da aula.

Pior cenário se torna quando percebemos que as regras e os cânones sociais, adotados pelas escolas, são cada vez menos adotados pela restante sociedade, a não ser, claro está, a judicial.
Este hiato que existe entre a pacificidade com que a Escola tem de lidar com a indisciplina, seja por falta de meios, seja por pressões das direções para não se registar ocorrências, assim como a necessidade de enviesar dados estatísticos, e as regras duras com que a justiça julga, resulta nisto.
Uma crescente e não denunciada violência em meio escolar!

O ME, ao dizer que os casos eram residuais, mostrou mais uma vez que desconhece por completo a realidade das Escolas Públicas de Portugal. Mostrou que o único dado com que trabalha, para sustentar as suas teses, são os estatísticos, que como sabem e sabemos todos nós que lá trabalhamos são escassos e pouco representativos da realidade, e mostrou sobretudo um enorme desrespeito por todos os profissionais da educação que todos os dias se deslocam para o seu local de trabalho, com medo!

A saber: residuais e excecionais são os casos de professores que agridem alunos, habituais e diários são os casos de alunos ou pais que agridem professores ou funcionários!

Mas, enquanto o ME quiser continuar a esconder-se atrás dos números, nada será feito!

Não bastam cordões humanos!

Alberto Veronesi