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Não abrir as escolas mata mais gente do que o vírus

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O conhecimento epidemiológico registado em papers e relatórios pré e pós-covid é claro. Está lá, leiam: fechar escolas não é solução. Está escrito, é científico, tem décadas de consenso, tal como o consenso sobre o aquecimento global. Mas este dado foi engolido pelo medo e pela incapacidade dos governos para resistirem ao medo da “geração mais informada de sempre”. O conhecimento científico só interessa se confirmar medos e preconceitos da “geração mais bem preparada de sempre”.

Até os próprios cientistas tiveram receio dos autos-de-fé do costume perante o unanimismo do #ficaremcasa. Mas as coisas são o que são. Ao longo destes meses, muitos cientistas corajosos afirmaram coisas absolutamente factuais como esta: as crianças devem ficar nas escolas. Lembro-me da associação de pediatras franceses, por exemplo. Agora, o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças diz que a transmissão do novo coronavírus nas escolas é pouco frequente e que fechar as escolas tem pouco impacto. O que vão fazer os fanáticos do #ficaremcasa perante este relatório de especialistas científicos? Vão enterrá-lo no medo?

O que eu acho revoltante no #ficaremcasa não é o medo. Todos sentimos medo. Eu percebo o medo. O que não entendo, o que eu acho moralmente inaceitável, é o seguinte: os apoiantes do #ficaremcasa acham que só salvam vidas, acham que a sua decisão não tem custos gravíssimos nas contas dos mortos.

Já nem falo da liberdade. Já nem falo da economia, do desemprego, da pobreza, que provocarão pobreza e mortes a médio prazo. Estou a falar dos mortos do #ficaremcasa aqui e agora. Anda tudo às voltas com o “mistério” da mortalidade excessiva de julho. Não há mistério, há vergonha, há embaraço: o #ficaremcasa, alimentado sobretudo pelo fecho das escolas, tem muito mais sangue nas mãos do que o vírus. Há centros de saúde que ainda não abriram, só por telefone. Há milhões de consultas por fazer, milhares de operações por realizar. Há um atraso brutal na oncologia, os cardiologistas dizem que, por magia, deixaram de ter doentes. E aposto que não ligaram a/c e ventoinhas nos lares de idosos.

Se não abrirem as escolas, a perpetuação deste torpor mortal causará ainda mais mortos por causas não covídicas. Além, obviamente, da fatura psiquiátrica e dos mortos de médio prazo provocados pela ausência de diagnóstico. O mundo não começa e não acaba no excel da covid apresentado pelas televisões.

Expresso