Por terem pegado os nossos filhos pela mão e os fazerem crescer um pouco mais, todos os dias
Só os jovens são capazes de insistir em se espantar. Em pegar nalguma coisa que já conhecem e a desmanchá-la, a agitá-la e a virá-la do avesso até que fique, enfim, mais familiar, mais amigável e, até, mais simples. E, no entanto, há pessoas crescidas que não deixam, insistentemente, de o fazer. Assim serão os professores. Quando repensam aquilo que sabem e o repartem. Quando pegam os nossos filhos e os levam, pela mão, das dúvidas que eles ainda nem sequer imaginaram até a um planalto (e a mais outro) de onde se vê mais longe, com mais claridade, e mais além. Talvez seja por isso que, bem vistas as coisas, só os professores sejam capazes de nunca deixar de ser jovens.
É verdade que é estranho que se consiga ser jovem quando todos ficamos com a sensação de que a escola, ao contrário da paixão dum professor, promove, sobretudo, o burburinho. Na cabeça, claro. Uma espécie de “hora de ponta” quase permanente, com um tráfego de conhecimentos amigo da bulimia que gera, todos os dias, estados parecidos a congestionamentos ou a engarrafamentos dentro de quem aprende. Vendo bem, fornecer conhecimentos ou convidar a consumi-los e a conhecê-los não é, de todo a mesma coisa. E um professor sabe-o, aliás, melhor que mais ninguém. Aliás, os professores – porque são jovens, por dentro – sabem que não há como conhecer seja o que for sem que, mutuamente, nos ousemos a dar a conhecer. Mas, raramente, a escola dá o tempo que quem aprende precisa de ter para aprender. E menos, ainda, dá o melhor daquilo que a escola tem para oferecer: os professores.
Ser-se professor não é bem uma profissão; é um estado de espírito. Ser professor é ser perguntador. E provocador (amigo da voz, portanto). E agitador de todos os sossegos. E desafiador. “Incomodador”. E encantador, enfim. Talvez a função mais preciosa dum professor seja desafogar. Abrir trilhos e atalhar. Desconcertar. Desarrumar. Regenerar. E repensar. Um professor é um repensador. E é por isso, sobretudo, que só os professores são capazes de nunca deixar de ser jovens.
Ao chegarmos ao fim de um ano lectivo, nunca é demais agradecermos a todos os professores que pegaram os nossos filhos pela mão e os levaram a crescer um pouco mais, todos os dias. Num mundo em que os “fazedores de opinião”, os “mentores”, os “influenciadores” e os “seguidores “ se multiplicam, todos os dias, existirem, simplesmente, professores devolve-nos – com aquilo que eles dão aos nossos filhos – à esperança de todos termos o direito às cavalitas. O direito que quem nos ama nos confere quando, depois de nos passar dos seus olhos para o seu colo, nos eleva até aos seus ombros. E nos encaminha a ver mais alto que o olhar de quem nos dá o mundo a ver. Só possível quando alguém nos coloca sobre os seus ombros e nos leva, com bondade, a espreitar, aconchegadamente, tudo aquilo que nos falta enxergar para vermos mais longe.
Muito obrigado, senhores professores!!!
Fonte: www.eduardosa.com
Obrigada sou eu aos Pais dos alunos que se identificam com o Eduardo Sá.
Muito obrigada pelas suas palavras. Quem está na carreira e suporta todas as "servícias" (o termo é forte, bem sei) a que estamos expostos, sabe que só com muito amor e gosto pelo que se faz, acordamos todos os dias com vontade de fazer mais e melhor, não obstante tudo o resto. Bem haja e continue.
Obrigada. Bem haja. Somos tudo isso e muito mais. Somos, muitas vezes, o colo, o ombro amigo, o pai ou mãe, a âncora, o sorriso que incentiva, a palavra que desafia, a mão que dá confiança, a ponte que permite passar para outros voos e sonhos. Somos tudo isso, ano após ano, reinventando, aprendendo com todos, mas principalmente com os alunos. De facto não dou aulas, nem vendo, pois são baratas demais, partilho caminhos, alimento relações, descubro outros trilhos, uns acompanham-me, outros resistem até acreditarem que são capazes. Obrigada por ser uma voz que entende o que é esta missão de ser professor e não desistir de continuar a ser com os outros, dando o melhor de nós, tantas vezes esquecendo a nossa família e vida pessoal, pois a profissional absorve-nos ao ponto de ser uma só vida…
Este comentário foi removido pelo autor.
Obrigada…
São palavras como as suas que não me deixam desistir da profissão que abracei.
Todos os dias luto pata dignificar a minha profissão. Mas confesso que por vezes me apetece desistir.
Muito obrigada pelas sua palavras, Eduardo Sá! São alimento para a alma e para o coração de quem (ainda) é professor…<3
Obrigada, o senhor é um Senhor.
Nunca é tarde para termos sarilhos na carreira que já vai bem longa, mas até agora correu bem. E registo que este ano , mais do que nos anteriores, nunca tive tanto beijinho e abracinhos, quer dos de 12 quer dos de 18 anos, uns bem haja dos pais que até me deixaram envergonhada e até um grande ramo de flores. Confesso-me extremamente espantada, não mudei ( os alunos é que me vão mudando) sou a mesma de há muito, gosto de dar aulas. Afinal , contamos bem mais do que muitos tudólogos querem fazer crer. Obrigada , também, por mais um abracinho .
Comments are closed.