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“Já está em marcha a máquina de propaganda para vencer os professores” – Carlos Santos

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Aproveitando-se da nossa falta de memória coletiva, já está em marcha a máquina de propaganda para vencer os professores com engodos fazendo-os desmobilizar com as mãos vazias, apenas cheias de promessas vãs.

Seria legítimo pensar-se ser obrigação das organizações sindicais não se deixarem enganar tão facilmente, uma vez que já deveriam ter compreendido a estratégia maquiavélica dos governos para conseguirem aquilo que querem. Quando se propõem cortar-nos um braço não dizem com sinceridade ao que vão. Nem optam por nos dizer que nada nos farão, antes pelo contrário, dizem logo que nos irão cortar os dois braços para espalharem o pânico. Depois de muita luta dos professores, numa derradeira reunião com os nossos representantes, apresentam a tal proposta que tinham em mente e que nunca revelaram, os sindicatos assinam-na e cantam vitória anunciando aos professores que, pelo menos, conseguiram que ainda ficássemos com um braço. Os sindicatos apresentam serviço, o governo consegue aquilo que inicialmente tinha em mente (cortar-nos um braço) e, no fim, os professores ficam sempre a perder. Esta tem sido a narrativa da tragédia em que se transformou a vida dos professores e que explica 17 anos de perda de direitos.

Eu ainda me lembro como era ser professor em 2005.

Lembro-me de termos conseguido a maior manifestação de sempre e, quando tínhamos uma força enorme, os sindicatos terem assinado um acordozinho.

Lembro-me de a carreira terminar aos 36 anos de serviço (32 no 1º ciclo) e termos permitido que chegasse aos 66 anos e 4 meses de idade.

Lembro-me de os professores serem recrutados a nível nacional pela tutela apenas por graduação profissional, sem prioridades e sem recrutamento por gestão de perfis e mapas interconcelhios por Concelhos de Diretores Intermunicipais (como propõe este governo).

Lembro-me da colocação de professores que atestassem motivos para mobilidade por doença.

Lembro-me de concursos anuais que permitiam que gradualmente os professores pudessem ficar mais próximo das suas famílias.

Lembro-me de nos terem roubado mais de 6 anos de serviço para efeitos de progressão na carreira.

Lembro-me da célebre noite as pizzas em que os sindicatos cantaram a tal vitória ao assinarem cotas de acesso ao 5º e ao 7º escalão.

Lembro-me de quando a avaliação era justa sem ter de obedecer a cotas.

Lembro-me de se chegar ao topo de carreira aos 27 anos de serviço.

Lembro-me de haver zonas pedagógicas mais pequenas que permitiam aos professores menos deslocações.

Lembro-me de os professores contratados não terem de aceitar normas travão e anos consecutivos completos para poderem almejar vincular.

Lembro-me dos conselhos executivos que eram eleitos de forma democrática por quem efetivamente está todos os dias nas escolas antes de permitirem que todos os possam eleger com exceção dos professores e assistentes operacionais que quase deixaram de ter voto na matéria.

Lembro-me da desumanização das escolas permitida com a criação dos mega agrupamentos e do aparecimento de milhares de horários-zero.

Lembro-me de uma escola com pouca burocracia onde os professores gastavam a maior parte do seu tempo na escola com os seus alunos e em casa com as suas famílias.

Lembro-me do respeito que ainda havia pela figura do “professor” sem calúnias constantes a saírem da boca dos políticos e na comunicação social.

Lembro-me da autoridade que os professores ainda detinham na escola e fora dela.

Lembro-me do tempo em que era raro haver violência física e verbal contra um professor.

Lembro-me de não termos aumentos salariais desde 2009 e neste ano de inflação gigante perdermos ainda mais poder de compra com um aumento miserável que nos irá deixar ainda mais pobres.

Tal como no passado, ainda não nos devolveram nada de tudo o que nos roubaram e a comunicação social ainda não parou de publicitar declarações do ministro a dissimular intenções com o único propósito de tentar desmontar a nossa luta, como outros já o fizeram no passado com o resultado devastador para a classe a que temos assistido.

Lembrem-se que não tardará muito a surgir alguém a dizer-nos que devemos ficar felizes por nos deixarem um braço e não nos terem cortado os dois.

Lembrem-se do passado, acordem, não se deixem enganar por este engodo que nos quer fazer desmobilizar.

Vejam que ainda não assinaram nada, não nos devolveram nada de tudo o que nos roubaram, de concreto ainda não temos nada.

Em rigor, lembrem a toda essa horda de intrujões que os professores ainda têm memória.

Não se deixem enganar de novo.

Que nenhum de nós desista da luta enquanto não nos devolverem a dignidade; e esta só voltará para nós quando nos devolverem o que nos tiraram.

Que cada professor que está na luta se lembre que não está sozinho.

Que cada professor que ainda não está na luta saiba que o colega que está em greve e a manifestar-se não o está a fazer só por si, está a lutar por todos nós; está a lutar pela dignificação da classe; está a lutar pela valorização da escola pública; está a lutar para que os professores possam voltar a andar de cabeça erguida.

(Carlos Santos)