Ivone Patrão e João Faria, psicólogos com experiência na investigação e intervenção nos comportamentos e dependências online, frisam que é fundamental adequar o uso das tecnologias a cada faixa etária, definindo regras claras desde o início, nomeadamente quanto ao tempo de utilização e à supervisão por parte dos pais.
IDADE
Durante o 1º ciclo, a maioria das crianças vai acompanhada por familiares na ida para a escola e no regresso a casa, não precisando de estar contactável por telefone. Já a partir do 5º ano, quando ganham mais autonomia, pode fazer sentido que tenham um telemóvel, ainda que sem ligação à internet. Um aparelho que envie SMS e faça e receba chamadas é suficiente nesta fase, defendem os especialistas. Só no 3º ciclo, a partir dos 12/13 anos, quando as necessidades de socialização aumentam e os miúdos já têm mais alguma independência, é que devem receber um smartphone, mas com regras bem definidas. É fundamental que estas sejam debatidas em família e fixadas pelos pais antes de os miúdos começarem a usá-lo.
SUPERVISÃO PARENTAL
Antes de mais, é essencial que o tipo de informação que os jovens podem partilhar ou aceder online e os respetivos riscos sejam discutidos em família. E, pelo menos ao início, o smartphone deve ser “completamente aberto aos pais”, que devem conhecer o respetivo código de desbloqueio, para que, periodicamente, possam consultá-lo, verificando o tipo de sites que os miúdos visitam e com quem falam, defende o psicólogo João Faria, coordenador do núcleo de intervenção no comportamento online da clínica PIN — Progresso Infantil. “É responsabilidade dos pais saberem onde andam os filhos, online e offline. Da mesma forma que, se tiverem um filho de 12 anos que brinca na rua, devem saber com quem está e o que está a fazer, também no uso do telemóvel devem ter acesso a esse tipo de informações, ainda que não tenham de estar especificamente a ler as conversas”, explica. À medida que os filhos crescem e ganham mais privacidade, é natural que os pais vão perdendo legitimidade para um controlo mais apertado. A partir dos 14/15 anos já poderão não saber o código do smartphone, mas, sempre que acharem necessário, devem pedir aos filhos para o desbloquear, de modo a poderem consultá-lo, defende.
RESTRIÇÕES
A supervisão não deve ser exercida apenas no que diz respeito aos conteúdos, mas também quanto ao tempo de utilização, garantindo “um bom equilíbrio entre atividades online e offline”, recomenda a psicóloga Ivone Patrão, coordenadora de um projeto de investigação na área dos comportamentos e dependências online. Na gestão diária das tecnologias há regras que devem ser fixadas, sem exceções: “As refeições não devem ser feitas com o telemóvel ou o tablet à frente e à noite, sobretudo na cama, deve haver zero horas de tecnologia, para garantir uma boa higiene do sono”, frisa. Tanto a luz emitida pelo telemóvel como muitos dos conteúdos online são estimulantes e inibidores do sono. De resto, a partilha em família de atividades online e offline pode ser uma forma de conhecer os interesses de cada um e um meio para se desenvolver em conjunto uma boa literacia digital. A internet pode ser um bom mediador para a pesquisa de um tema e o início de uma conversa, para um jogo em família ou uma visita virtual a um museu, por exemplo.