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“Há pais que abandonam os filhos nas escolas”

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Numa conversa na Quinta Municipal da Piedade, o espaço verde de excelência da cidade, considera que os alunos passam demasiado tempo na escola. Lamenta a crescente perda de autoridade dos professores e acredita que o associativismo tem futuro na Póvoa.

Ainda há pais na Póvoa de Santa Iria que se aproveitam das escolas para abandonarem os filhos durante o dia, desligando-se totalmente das suas necessidades e obrigações. Uma situação que deixa triste Anabela Felizardo, presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Póvoa de Santa Iria (APAEPSI), um dos maiores do país, com mais de 3.600 alunos distribuídos por oito escolas.

“Há pais que abandonam os filhos nas escolas, sobretudo por necessidade, por terem de trabalhar muitas horas. Deixam-nos cedo e só os apanham já tarde. Mas também há quem os deixe lá imensas horas sem necessidade e por outros motivos. Preocupa-nos ver as crianças na escola tanto tempo”, lamenta a dirigente, eleita no dia 30 de Junho para mais um mandato de dois anos.

Anabela vive na Póvoa há duas décadas e tem dois filhos, ambos a estudar nesse agrupamento. Diz que os professores não têm medo dos pais mas admite que a sua autoridade tem vindo a diminuir. “As directrizes do ministério limitam a actividade do professor e eles mereciam ter mais autoridade e mais reconhecimento, porque são os formadores de todos nós”, defende. Aos pais cabe educar as crianças, diz a dirigente, que não concorda com telemóveis nas salas de aula.

O trabalho feito pela associação é muito importante mas raramente transparece. Um trabalho invisível que faz a diferença no dia-a-dia de milhares de alunos e até na comunidade, através de projectos de apoio social e disponibilização de um banco de roupa usada para quem precisa. As actividades de tempos livres (ATL), que asseguram escola a tempo inteiro a todos os alunos, são responsabilidade da associação, financiadas por protocolos celebrados com a câmara e o agrupamento de escolas.

Além de ser a representante oficial dos pais junto do agrupamento, a associação é também uma fonte fiscalizadora do que corre mal nas escolas e sugere correcções. Exemplo disso foi a recente polémica com a falta de auxiliares nas escolas, que obrigou o agrupamento a mapear um plano de encerramento rotativo das escolas, ideia que mereceu o apoio da associação de pais. “Felizmente as escolas não chegaram a fechar graças à pressão junto do Ministério da Educação”, recorda.

Escolas a precisar de obras

A dirigente faz uma avaliação positiva do trabalho do agrupamento mas confessa duas preocupações: a necessidade urgente de obras de requalificação na Escola Básica Aristides Sousa Mendes e a ampliação do parque escolar para permitir a todas as crianças frequentar as escolas da Póvoa. “Recentemente ajudámos a meter estores na Aristides de Sousa Mendes porque nem isso tinha. Mas ela não precisa de estores, precisa de uma escola nova. É uma escola com imenso espaço e podia receber mais alunos”, defende.

Enquanto no 1º ciclo há capacidade de resposta, no secundário há jovens que têm de sair da Póvoa para terem aulas em freguesias vizinhas. “Das 15 turmas de 9º ano apenas seis conseguem colocação na cidade. Não há espaço físico para albergar mais turmas. A Secundária Dom Martinho cresceu para albergar mais alunos mas não chega”, critica.

Para a líder da associação de pais, a ampliação da Aristides de Sousa Mendes permitiria aumentar a resposta do 3º ciclo, libertando espaço na Dom Martinho para mais turmas do secundário. A Escola Básica das Bragadas e a Escola Básica Nº4 também precisam de requalificação, no entender da dirigente, que acredita que a descentralização das escolas do ministério para a câmara municipal vai trazer vantagens. “O poder descentralizado tende a ser mais consciente do que se passa, traz maior proximidade e rapidez”, defende.

Anabela Felizardo considera que as escolas são seguras e que não há casos dramáticos de bullying registados.

Acreditar no associativismo

Anabela Felizardo tem 48 anos, é da Bobadela, concelho de Loures, mas vive na Póvoa de Santa Iria há mais de duas décadas, onde constituiu família. Gosta de viver ali por ser um local calmo. Diz que os seus filhos desde o 5º ano que vão a pé sozinhos para a escola. É engenheira electrotécnica e gestora de projectos numa empresa de telecomunicações. Elogia os espaços verdes da cidade e a requalificação da zona ribeirinha.

Sempre teve o bichinho do associativismo e da solidariedade. Gosta de fazer muito com pouco e ajudar quem precisa. “O associativismo tem de sair da generosidade de cada um e só assim faz sentido. Acredito que o associativismo tem futuro. Esta pandemia veio mostrar que precisamos uns dos outros. Foi com muita gente solidária que se conseguiu chegar a famílias que nesta altura precisavam”, diz. Está no seu segundo mandato à frente da associação de pais. Diz que é muito triste, num agrupamento com milhares de crianças, que pouco mais de três dezenas de pais se envolvam nas assembleias da associação. Acredita que em parte é porque as pessoas não sabem como participar e por isso o objectivo é ligar-se ainda mais à comunidade.

A tele-escola imposta pela pandemia foi um desafio onde valeu a força de todos. Teme que possa ter havido alunos que tenham ficado menos bem preparados e por isso avisa que é preciso os professores retomarem algumas matérias que ficaram para trás no recomeço do próximo ano lectivo.

Fonte:  O Mirante

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