“Há escolas onde nem sequer é possível abrir a janela”, comenta o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, a propósito da orientação que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) continua a dar às escolas de que privilegiem a renovação do ar das salas de aula, “preferencialmente com ventilação natural”. A solução tem sido abrir as portas das salas, na expectativa de criar alguma circulação, mas o dia-a-dia “é uma complicação”, confessa o mesmo director.
O caso mais complexo é o das centenas de infra-estruturas construídas e geridas pela Parque Escolar, no final da primeira década do milénio. O processo de renovação desses estabelecimentos de ensino levou à instalação de equipamentos de climatização mais modernos, como sistemas mecânicos de renovação do ar ou ar condicionado. Para assegurar a sua eficácia energética, as janelas não permitem ser abertas ou têm a abertura limitada.
Essa opção criou logo na altura problemas “complicados” às escolas, recorda Manuel Pereira. Como a generalidade dos sistemas de climatização eram eléctricos, as “despesas de funcionamento e manutenção são brutais”. Durante muito tempo, alguns directores optaram por nem sequer ligar os sistemas de climatização.
Com a pandemia, a questão ganhou nova premência. Da parte do Ministério da Educação, tem havido “sensibilidade” para “tratar dos casos mais difíceis”, afirma Manuel Pereira. Desde logo porque muitas escolas precisam de um reforço orçamental para fazer face às elevadas contas energéticas. Noutros casos, foram feitas pequenas melhorias. Mas tudo isto tem sido feito caso a caso, não correspondendo a um plano nacional.
Esta é uma das dimensões em que pouco ou nada mudou no último ano nas escolas, como apontava o PÚBLICO num trabalho publicado no início desta semana, a propósito do início do novo ano lectivo.
Nos últimos 12 meses, não houve investimentos em infra-estruturas para responder às limitações das escolas em termos de renovação do ar nas salas de aulas ou de climatização. As obras concretizadas no último ano foram as que já estavam lançadas e não tiveram em conta as exigências da pandemia. As intervenções que aconteceram foram pontuais, pagas com o orçamento privativo das escolas ou, sobretudo, pelas autarquias que já têm essas competências descentralizadas.
A necessidade de ventilação das salas, recomendada pela DGS, levou a que, no ano lectivo passado, muitos alunos tenham tido aulas com as janelas abertas, o que se tornou problemático no Inverno.
Segundo o presidente da ANDE, as escolas vão “fazendo o que podem”, abrindo ora janelas ora portas, para permitir a circulação do ar, como recomendado pela DGS. “Quando está frio, não se abrem as janelas. Mas com a porta aberta, há ruído. É uma complicação”, desabafa Manuel Pereira. “Vamos usando o bom senso, conforme as circunstâncias”.