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Faltam dados sobre as crianças enquanto transmissores

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Como em quase tudo que envolve a atual pandemia, também faltam certezas e sobram dúvidas em torno do papel das crianças enquanto transmissores do SARS-CoV-2 e do efeito que a reabertura das escolas pode ser na disseminação do vírus pela comunidade. Olhando para os números, em Portugal e no mundo, fica evidente que crianças e jovens não estão imunes, mas que têm sido mais poupados à doença.

Os dados do maior estudo serológico em Portugal revelaram que não existem diferenças significativas na presença de anticorpos — que indicam contacto prévio com o vírus — entre grupos etários. Esses anticorpos foram encontrados em 2,9% das crianças entre os 1 e os 9 anos, em 2,2% do grupo dos 10 aos 19 e em 3,2% na faixa etária 40-59, por exemplo.

No entanto, quando se olha para os casos confirmados de covid-19, a distribuição é bem diferente. Se a esmagadora maioria das pessoas testadas apresenta sintomas da doença, então pode concluir-se que muito poucas crianças e adolescentes ficam doentes: 92% dos 52 mil casos confirmados são de pessoas com 20 ou mais anos. E ninguém morreu abaixo dessa idade.

Dito isto, já é mais difícil avaliar o papel dos mais novos na transmissão. Segundo o Center for Disease Control, norte-americano, há relatórios publicados em França, Austrália e Irlanda que sugerem que os estudantes não são tão transmissores do vírus a outros colegas quanto os contactos familiares. No entanto, também é verdade que só no próximo ano letivo, com o regresso às aulas de milhões de alunos em simultâneo, é que se poderá fazer a primeira avaliação a sério.

Os regressos que houve ainda no passado ano letivo foram parciais. Ainda assim, aconteceram situações diversas. Na Dinamarca, por exemplo, não houve ressurgimento de casos; já em Israel, a situação agravou-se. Nas suas orientações sobre escolas, o CDC recomenda que as decisões tenham sempre em consideração o nível de transmissão na comunidade.

“Não podemos esquecer que a vida terá de regressar à normalidade na medida do possível. Temos de garantir que a escolarização e a interação social continuam. Faz parte do desenvolvimento das crianças. Há um risco, mas há grupos que nos devem preocupar substancialmente mais, nomeadamente os idosos”, defende Firmino Machado, médico de saúde pública e ex-consultor da OMS. O especialista concorda que crianças e adolescentes “não são um grupo vulnerável para a ocorrência de mortalidade nem para a manifestação de formas severas da doença”. Mas que têm de ser assumidos como “portadores assintomáticos, com o problema a surgir no contacto com outros grupos mais vulneráveis, como os avós.” Por isso, defende medidas como “reforço da ventilação natural, higienização de superfícies e mãos, distanciamento entre mesas e uso de máscara”.

Expresso