Gostaria de vos deixar a minha modesta experiência no desempenho da minha função de Diretora de “primeira viajem…”
Sou diretora do Agrupamento de Escolas Padre António Martins de Oliveira, do Concelho de Lagoa no Algarve desde 31 de Julho de 2019. Desde o primeiro ano de mandato que comecei a perceber a dimensão da falta de professores na região Algarvia, problema este que foi potenciado com esta pandemia que nos assombra desde março de 2020, aumentando a necessidade agravou-se o problema já há algum tempo anunciado. Encaramos esta problemática não apenas de início de ano, mas ao longo do mesmo, pois existem muitos professores a ficarem doentes, exaustos, desgastados, ou seja, muitos dos docentes “atiram a toalha ao chão”, não aguentam a pressão e a quantidade de tarefas que lhe são exigidas dentro e fora daquilo que é o seu horário laboral. No início de cada ano letivo existem sempre horários que ficam por preencher, quanto mais não sejam os dos professores que são do quadro, mas que se encontram de baixa. Por serem hipoteticamente necessidades temporárias, não podem ser colocados atempadamente na requisição da componente letiva realizada pelos diretores logo em julho. Por outro lado, as matrículas não param, por variadíssimas razões, surgem sempre necessidades ao longo do ano, o que obriga a reorganizações constantes. A partir deste momento começa a corrida a reservas de recrutamento vazias que transitam para contratações de escolas desertas; semana após semana se aguarda ansiosamente que algum docente fique colocado ou se candidate aos horários da contratação. Quando existem candidatos, depois de os ordenar por graduação, as escolas cheias de esperança começam a selecionar professores, mas a felicidade dura pouco, quando volta o nosso desespero ao aparecerem mensagem do género O candidato não pode ser selecionado pois já está colocado” ou “ O candidato não pode ser selecionado por se encontrar penalizado”. Mesmo quando conseguimos selecionar um dos candidatos, uma horas depois percebemos que o candidato não aceitou a colocação, e ainda se dá o caso de candidatos que aceitam, mas vão ficar de baixa, logo temos que pedir substituição para o substituto do docente em falta.
Desesperados com esta espera infrutífera, os diretores começam a engendrar formas temporárias para dar as soluções que não são encontradas nas ferramentas e procedimentos apresentadas pelo Ministério da Educação. Desta forma só nos resta recorrer aos docentes que se encontram a lecionar nesse mesmo ano letivo, partir os horários em várias partes e sobrecarregar os docentes com horas extraordinárias que podem ir até seis, dando resposta imediata aos alunos, pois o tempo está sempre a rolar. Quando desta forma conseguimos colmatar todas as necessidades, entram mais docentes de baixa e voltamos ao princípio, até se chegar ao um limite insustentável!
Desde há alguns anos a esta parte este assunto tem vindo a público e não existem medidas estruturantes do Ministério da Educação para dar resposta a este flagelo: os docentes estão exaustos, desmotivados, sobrecarregados com tarefas paralelas àquilo que é a essência do ensino. Os professores são simultaneamente: avaliados e avaliadores externos e internos; formandos e formadores; criam, desenvolvem, aplicam e monitorizam projetos de Intervenção na avaliação de e para as aprendizagens; desenvolvem projetos de inovação; aplicam planos de recuperação das aprendizagens 21-23; realizam, entre muitas outras mais, todas as tarefas técnicas e administrativas do plano de transição digital…
É urgente a existência de medidas estruturantes, criação de incentivos para colocar professores onde fazem mais falta e recuperar os profissionalizados que, ao longo dos anos, saíram do sistema pondo fim a esse desgaste que a profissão hoje em dia provoca. Acima de tudo temos de cuidar e acarinhar aqueles que tem segurado o sistema durante estes últimos seis anos com uma capacidade de organização, inovação, trabalho e perseverança acima da média, dando tudo o que têm em prol dos seus alunos, docentes estes que, apesar de todas as adversidades, conseguiram manter a “Paixão de ser PROFESSOR”.
*Diretora do Agrupamento de Escolas ESPAMOL Padre António Martins de Oliveira, LAGOA