À medida que o ano letivo começa em toda a União Europeia, 24 dos 27 Estados-membros enfrentam uma escassez crítica de professores. Este problema crónico está a afetar a aprendizagem dos alunos e a comprometer o objetivo de proporcionar uma educação de qualidade para todos. Apenas a Croácia e Chipre não reportaram falta de pessoal educativo, segundo o relatório “Education and Training Monitor 2023” da Comissão Europeia. No entanto, os dados públicos disponíveis da Grécia não permitem avaliar com precisão se as suas necessidades educativas estão totalmente cobertas ou se existem lacunas em disciplinas específicas.
Países Mais Atingidos
A Suécia é um dos países mais gravemente afetados, necessitando de 153.000 professores qualificados até 2035. A situação é igualmente preocupante na Alemanha, onde o sindicato GEW (Gewerkschaft Erziehung und Wissenschaft) alertou contra a redução dos padrões de qualificação pedagógica como uma medida de compensação para a falta de pessoal.
A escassez de professores não é homogénea, com a maior parte dos países a enfrentar dificuldades em recrutar profissionais qualificados nas áreas das ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), bem como na educação infantil e nos cuidados infantis.
Causas da Crise
A profissão docente na UE enfrenta vários desafios que a tornam pouco atraente. Entre os principais obstáculos estão os baixos salários, a falta de segurança no emprego e a elevada carga de trabalho. Estes fatores têm contribuído para o afastamento de muitos profissionais da educação.
Um exemplo concreto é o de Gauthier Catteau, que começou a sua carreira como professor de Geografia na Bélgica francófona aos 22 anos. No entanto, aos 29 anos, decidiu abandonar a profissão e enveredar pela engenharia, depois de se ver a lecionar para uma turma de 39 adolescentes e a fazer um percurso diário de três horas para ir e voltar da escola em Bruxelas. “Escolhi trabalhar em Bruxelas porque me dava alguma segurança”, afirmou Catteau, que sentiu que a distância de deslocação, a elevada carga de trabalho e as limitadas perspetivas de progressão na carreira eram incompatíveis com o seu desejo de formar uma família.
Segundo dados do Eurostat de 2021, apenas 8% do total da força de trabalho docente na UE tinha menos de 30 anos, o que evidencia o envelhecimento da população de professores e a falta de atratividade da profissão para os jovens.
Impacto da Guerra na Ucrânia
A guerra na Ucrânia também agravou o problema da falta de professores na Europa, com a integração de crianças ucranianas deslocadas nas escolas da UE. Em fevereiro de 2023, a Polónia registou a inscrição de 43.800 crianças ucranianas no sistema de educação infantil, colocando uma pressão adicional sobre um sistema já debilitado.
Envelhecimento e Reformas
Muitos países da UE enfrentam uma vaga iminente de reformas entre a população docente. Em Portugal, por exemplo, o sindicato Fenprof estima que entre 4.700 e 4.800 professores se reformem nos próximos anos, o número mais elevado desde o início do milénio. Até 2030, o país precisará de mais de 30.000 novos professores.
Soluções e Desafios
A Comissão Europeia tem promovido a mobilidade de professores e recompensado práticas pedagógicas inovadoras com prémios como forma de combater esta escassez e restaurar o prestígio da profissão docente. Vários países da UE têm tentado atrair professores reformados de volta à profissão e preencher as lacunas com contratos temporários, mas estas soluções têm-se revelado insuficientes.
Na Irlanda, o Secretário-Geral da Associação dos Professores do Ensino Secundário da Irlanda (ASTI), Kieran Christie, afirmou em abril deste ano que o Departamento de Educação precisava de uma “mudança completa de pensamento” para enfrentar a atual escassez de professores. Christie sugeriu várias iniciativas para incentivar os professores que deixaram a Irlanda para trabalhar no estrangeiro a regressar.
No entanto, encontrar uma solução a nível europeu é uma tarefa complicada. De acordo com o economista da educação Giorgio Di Pietro, que escreveu um relatório técnico para o Centro Comum de Investigação da UE, uma das razões pelas quais é difícil criar um indicador europeu comparável sobre a escassez de professores é que os países têm diferentes regras institucionais educativas. “Em alguns países, a qualificação formal para ensinar pode ser obtida de formas diferentes. Em alguns, torna-se automaticamente professor ao concluir o programa de preparação docente, enquanto noutros há etapas adicionais a cumprir”, explicou Di Pietro.
Os países da UE, incluindo Portugal, Espanha, Irlanda, França, Bélgica, Países Baixos, Itália, Luxemburgo, Alemanha, Dinamarca, Áustria, Eslovénia, República Checa, Polónia, Suécia, Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária, estão a enfrentar uma crise que não mostra sinais de abrandamento. A combinação de baixos salários, elevada carga de trabalho e envelhecimento da população docente está a criar uma tempestade perfeita que ameaça comprometer a qualidade da educação na Europa. A necessidade de soluções inovadoras e coordenadas a nível nacional e europeu é urgente para garantir que as gerações futuras tenham acesso a uma educação de qualidade.
Falta de professores atinge 24 países da UE. Porque é que isto acontece?