Ah! A violência! Tanto que me deleito com este prazer carnal de utilizar o meu corpo para destruir o teu, apenas com o propósito de, nada mais, nada menos que nada. Dentro da caixa das razões para magoar os outros não há nada. Ainda assim, gosto de o fazer. Ninguém me fez nada de mal. Então porque haveria eu de sentir esta necessidade de violentar o bem estar dos outros? Não sei… sabe-me bem, sabe-me a grandiosidade, a poder, a superioridade, e, aqui entre nós, sem querer ser demasiado explícito, sabe-me a sangue… Hahahaha! Que maravilha, esta loucura! Já não há sanidade nas ruas! Que bonito é observar o mundo e ver que todos os seus habitantes sentem a urgência de se libertar das opressões a que estão sujeitos! As flores, os rios, os grandes bosques e o céu estrelado, nada disso possui mais beleza, nada disso voltará a ser apreciado, estamos condenados a viver mergulhados em loucura, em problemas, na violência!
Isto não é uma brincadeira, ideias como esta anterior já não são mais citações de livros de ficção e policiais. É a realidade. Tal realidade que está presente também num lugar específico, um lugar onde a questão da violência se torna ainda mais preocupante. As escolas. Estabelecimentos de aprendizagem, educação, conhecimento, problemas, confusões e violência. É um horror. As crianças e jovens são obrigadas, por lei, a frequentar o ensino para depois regressarem a casa, extremamente animadas:
– Pai, mãe! Hoje lutei com o João, ele ficou com nódoas negras nos braços! Foi mesmo divertido!
O que é isto? Que miséria de lugar é este onde a violência é algo bom? Professores contra alunos, alunos contra professores, professores contra professores e alunos contra alunos. E parece que a cada dia isto se torna algo mais banal, começa a fazer parte do nosso quotidiano. Chegamos a casa, ouvimos as notícias pensando: “Então, vamos lá ver, quem terá sido, hoje, a criança que levou uma arma para a escola? Quem terá sido, desta vez, o professor que levou processos disciplinares por maus tratos aos seus alunos?” A educação das pessoas desvanece a cada dia, o respeito pelos outros perde-se cada vez mais, os valores morais de cada um de nós são substituídos por instintos selvagens que nos transformam em seres incapazes de viver em sociedade.
É necessário então analisar. Quais as causas disto tudo? Na minha opinião, é a loucura em que vivemos. Hoje em dia é raro vermos pessoas calmas. Todos andam a correr para todo o lado, todos andam nervosos em fazer isto e aquilo. Todos fazem tudo só porque querem tudo. Nada é mais importante que o material e faremos tudo para o obter. Esta maneira de estar reflete-se nas pessoas, e, não sendo esta uma boa maneira estar mentalmente, é necessário libertar a tensão, geralmente através da violência. Nas escolas passa-se isto. Todos estão influenciados por aquilo que os rodeia, todos agem conforme aquilo que recebem, através do mundo exterior. Toda esta opressão criada por uma sociedade materialista, mal educada, com uma moralidade deficiente, exprime-se no ser humano de forma negativa. Podem dizer que as pessoas veem filmes violentos, jogam jogos violentos, e que isso produz comportamentos negativos, mas tudo isso é mentira. As imposições da sociedade sobre nós, essas sim contribuem para a violência nas escolas. A ética da atualidade ensina-nos a isto, a ética atual dá-nos maus valores. Esta é a causa da violência nas escolas.
Mas como havemos de impedir que isto continue a acontecer? Uma coisa eu sei, criar mais leis não é a solução. Se as pessoas se revoltam conforme a opressão que sentem, oprimi-las ainda mais não pode ser a solução. Para resolver os impulsos violentos é necessário haver uma maior educação. É necessário descomplicar a vida. As pessoas precisam de acalmar. Não é normal que uma criança esteja sujeita a tantas responsabilidades, não é normal que uma criança tenha a vida de um adulto, não é normal que as pessoas não possam usufruir do direito à vida que deveriam ter. Tudo somado irá proporcionar vontade de revolta. E para solucionar tal caso tem que se ajudar a construir e não castigar aquilo que já está destruído.
Educar, por exemplo, não significa ensinar quanto é 2+2, não significa obrigar a saber o que é o modificador apositivo do nome. Significa mostrar quais os valores que devem ser seguidos, qual a moralidade que nos permite ser diferentes dos outros animais. É que, infelizmente, pelo caminho que o mundo está a tomar, e já tomou, há animais que são mais humanos que nós, animais selvagens que nada mais deviam seguir para além dos seus instintos de sobrevivência, fazem coisas mais humanas que nós. Enquanto isso, andamos a bater-nos nas escolas, porque o menino A tirou melhor nota que o menino B, ou porque o professor X disse que o aluno Y conjugou mal o verbo “ser”. Somos seres inteligentes, temos que perceber que é preciso ajudar mais do que aquilo que se castiga. As entidades superiores têm que perceber que tirar bem estar ao povo para aumentar o deles não ajuda. As pessoas fazem o bem quando estão bem, mas se ninguém nos permite isso, não podemos esperar milagres.
Acredito que a violência na escola está a aumentar. Já não se respeita ninguém. Os bons valores já não têm peso nenhum quando se comparam com os saberes científicos. Damos cada vez mais importância àquilo que sabemos fazer e menos àquilo que sabemos ser. E assim a violência aumenta, com o perder da moral e a necessidade de competição entre todos. Triste afirmo que hoje em dia não se fala mais disto. Finge-se apenas. Continuamos a não querer saber da violência. Todos sabemos que isso acontece, mas é preferível fechar os olhos, para não termos que andar em trabalhos.
Para concluir, isto está mal, é preciso agir. A violência nas escolas não é algo que só apareça nos filmes. Todos os dias há casos de maus tratos na escola. Vamos começar a deixar de fingir que não vemos nada, e intervir. Vamos ajudar aqueles que precisam. “É só uma pequena discussão infantil, deixa lá que já fica tudo bem.” Não, não fica. Ajudem. Não virem a cara para o lado.
Francisco Gama
Fonte: JUP