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Escolas devem encerrar? Há condições para o ensino à distância? As incertezas e o impacto dos confinamentos no ensino

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O presidente do Conselho de Escolas prefere as escolas abertas – exceto se isso significar um aumento das mortes -, a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas remete a decisão para os especialistas e defende que deve ser ajustada à evolução da pandemia em cada concelho.

 

Ao Expresso, o presidente do Conselho de Escolas, José Lemos, disse discordar do encerramento pelas consequências sociais e económicas que isso implica. Já Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANADEP), defende que a “ciência tem de vir antes da política” e reitera a confiança “nos especialistas que aconselham o primeiro-ministro”.

 

O responsável da ANADEP concorda que, a acontecer, o confinamento deve “começar pelos alunos mais velhos, porque são os mais autónomos”. Ainda assim, Filinto Lima não vê necessidade “de todos os alunos do secundário irem para casa”. Usar a estratégia definida para os fins de semana e “ter em consideração o risco em determinado concelho” parece-lhe uma solução ajustada.

 

“Há muitas escolas com algumas turmas em ensino à distância. Escolas fechadas e só com este regime devem ser muito poucas”, sublinha José Lemos. Para o responsável, “as escolas são socialmente importantes e do ponto de vista social e económico não devem estar fechadas. Não só pelos alunos como também pelos pais, que não podem ir trabalhar se os filhos tiverem de estar em casa”.

 

ALUNOS EM CASA DESDE O NATAL EM VENDAS NOVAS

No Agrupamento de Escolas de Vendas Novas (AEVN), por exemplo, os alunos do 7.º ao 12.º ano não voltaram às aulas após as férias de Natal. Atendendo ao “aumento exponencial” de casos de covid-19 registado durante o mês de dezembro no concelho (e em muitas das freguesias que o agrupamento serve), o estabelecimento e as autoridades locais endereçaram um pedido para que as aulas fossem retomadas, mas à distância, solicitação atendida pela entidade de saúde regional e pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

 

A experiência dos já longos meses a lidar com a pandemia fazia prever o pior, disse ao Expresso Adélia Bentes, diretora do agrupamento. Com a escola a registar os primeiros casos desde novembro, a necessidade de manter em casa várias turmas em isolamento, “assim como os professores dessas turmas”, foi criando “enormes constrangimentos” – as indicações são da DGS, havendo algumas escolas em que a orientação tem sido a de manter os docentes ao serviço. Desde logo, explica a professora, foi “preciso criar um leque de soluções que evitasse ter outras turmas com ‘furos’ nos horários”, potenciando o risco de os alunos se concentrarem nos espaços de convívio.

 

“Foram dias de grande esforço, que obrigaram a um enorme planeamento, incluindo o constante refazer de horários e a articulação com as outras entidades para que todos nas turmas com casos fossem testados”, continua Adélia Bentes.

 

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A mais-valia foi a escola ter mecanizado o ensino com recurso a alternativas: regimes mistos, aprofundamento das ferramentas para o ensino ‘online’, atribuição de mais horas a professores sem horário completo… Novas rotinas que, no fundo, contribuíram para que o agrupamento se sentisse preparado para propor a passagem completa para o regime virtual, acrescenta a sua diretora.

 

O Agrupamento de Vendas Novas é um dos vários atualmente a lecionar aulas à distância. O Ministério diz não ter essa contabilidade feita, mas há mais exemplos, como as escolas dos concelhos de Pinhel e da Mêda. Numa altura em que o Governo equaciona as regras para novo confinamento, incluindo no caso dos estabelecimentos escolares, vários pretendem ver aprovada a licença para fechar as suas portas físicas.

 

A DECISÃO MAIS PRUDENTE

“As escolas são seguras”, é a opinião generalizada, mas há por outro lado a experiência de que a subida de casos nas comunidades “afeta de forma incontornável o normal decorrer do ano letivo”, como sublinhou ao Expresso Mário Santos, diretor do Agrupamento de Escolas Duarte Lopes, de Benavente. No concelho ribatejano, onde o número de infeções cresceu exponencialmente depois do Natal, uma das propostas avançadas foi a de suspender o ensino presencial em todos os anos letivos. “É o mais prudente para todos”, considera Mário Santos.

 

Em Vendas Novas, onde o risco epidemiológico se agravou entretanto para ’extremamente elevado’, o regime tem funcionado. “A autorização que temos é para nos mantermos assim até ao dia 15, as autoridades de saúde vão decidir como vai ser depois dessa data”, detalha Adélia Bentes, que adianta estar a sentir a pressão dos encarregados de educação das crianças mais novas para que a opção não presencial se estenda aos primeiros anos. “Creio que não será possível”, observa, reconhecendo que o ensino à distância não é tão eficaz nessas faixas etárias.

 

Certo é que o encerramento das escolas no quadro do próximo confinamento continua em aberto em relação aos alunos do terceiro ciclo e secundário. “As divergências entre os especialistas foram muito grandes” e por isso haverá uma ponderação política, disse esta terça-feira António Costa.

 

José Lemos, presidente do Conselho de Escolas discorda com o fecho das escolas. “Tenho apenas uma exceção: caso os especialistas digam que mantê-las abertas fará aumentar o número de mortos”, disse ao Expresso. “A informação que temos é que nas escolas o aumento do número de infeções não é tão grande assim. Há casos, claro, mas nas escolas a situação de infeção é bastante melhor do que na sociedade em geral”, considera ainda.

 

PRÓS E CONTRAS

Para Filinto Lima, da ANADEP, não se trata de ser a favor ou contra, diz ao Expresso: “A minha opinião não interessa. Eu confio nas pessoas que vão opinar junto do primeiro-ministro”. E sintetiza os prós e contras: “A situação correu francamente bem no primeiro período devido ao envolvimento da comunidade escolar, dos professores e também das regras e procedimentos adotados. Agora, há o reverso da medalha: conseguimos controlar os alunos quando estão nas escolas, mas não os controlamos nos transportes públicos, em casa ou até atividades extracurriculares ao final do dia que são praticadas noutros sítios”.

 

A mais-valia foi a escola ter mecanizado o ensino com recurso a alternativas: regimes mistos, aprofundamento das ferramentas para o ensino ‘online’, atribuição de mais horas a professores sem horário completo… Novas rotinas que, no fundo, contribuíram para que o agrupamento se sentisse preparado para propor a passagem completa para o regime virtual, acrescenta a sua diretora.

 

O Agrupamento de Vendas Novas é um dos vários atualmente a lecionar aulas à distância. O Ministério diz não ter essa contabilidade feita, mas há mais exemplos, como as escolas dos concelhos de Pinhel e da Mêda. Numa altura em que o Governo equaciona as regras para novo confinamento, incluindo no caso dos estabelecimentos escolares, vários pretendem ver aprovada a licença para fechar as suas portas físicas.

 

A DECISÃO MAIS PRUDENTE

“As escolas são seguras”, é a opinião generalizada, mas há por outro lado a experiência de que a subida de casos nas comunidades “afeta de forma incontornável o normal decorrer do ano letivo”, como sublinhou ao Expresso Mário Santos, diretor do Agrupamento de Escolas Duarte Lopes, de Benavente. No concelho ribatejano, onde o número de infeções cresceu exponencialmente depois do Natal, uma das propostas avançadas foi a de suspender o ensino presencial em todos os anos letivos. “É o mais prudente para todos”, considera Mário Santos.

 

Em Vendas Novas, onde o risco epidemiológico se agravou entretanto para ’extremamente elevado’, o regime tem funcionado. “A autorização que temos é para nos mantermos assim até ao dia 15, as autoridades de saúde vão decidir como vai ser depois dessa data”, detalha Adélia Bentes, que adianta estar a sentir a pressão dos encarregados de educação das crianças mais novas para que a opção não presencial se estenda aos primeiros anos. “Creio que não será possível”, observa, reconhecendo que o ensino à distância não é tão eficaz nessas faixas etárias.

 

Certo é que o encerramento das escolas no quadro do próximo confinamento continua em aberto em relação aos alunos do terceiro ciclo e secundário. “As divergências entre os especialistas foram muito grandes” e por isso haverá uma ponderação política, disse esta terça-feira António Costa.

 

José Lemos, presidente do Conselho de Escolas discorda com o fecho das escolas. “Tenho apenas uma exceção: caso os especialistas digam que mantê-las abertas fará aumentar o número de mortos”, disse ao Expresso. “A informação que temos é que nas escolas o aumento do número de infeções não é tão grande assim. Há casos, claro, mas nas escolas a situação de infeção é bastante melhor do que na sociedade em geral”, considera ainda.

 

PRÓS E CONTRAS

Fechar ou não fechar (algumas) escolas, eis a questão

Para Filinto Lima, da ANADEP, não se trata de ser a favor ou contra, diz ao Expresso: “A minha opinião não interessa. Eu confio nas pessoas que vão opinar junto do primeiro-ministro”. E sintetiza os prós e contras: “A situação correu francamente bem no primeiro período devido ao envolvimento da comunidade escolar, dos professores e também das regras e procedimentos adotados. Agora, há o reverso da medalha: conseguimos controlar os alunos quando estão nas escolas, mas não os controlamos nos transportes públicos, em casa ou até atividades extracurriculares ao final do dia que são praticadas noutros sítios”.

 

Por outro lado, lembra, os critérios dos técnicos não devem esquecer que “o pessoal docente e não docente é envelhecido”, tal como – em caso de não encerramento – será preciso que “a promessa de chegarem às escolas testes rápidos não se evapore”, sustenta. Da mesma forma, conclui, “os profissionais da educação devem ser prioritários na toma vacina”.

 

A questão de manter as escolas abertas para os alunos com mais de 12 anos continua a ser discutida e só nos próximos dias haverá uma resposta. Esta quarta-feira, o Parlamento debateu e já aprovou o nono decreto de estado de emergência, que prevê que o próximo mês seja de confinamento e com medidas restritivas semelhantes às de março e abril.