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Escola Pública. Fábrica De Medíocres – Respondendo

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Caro José Manuel Diogo,

Em primeiro lugar, não quero deixar de mostrar a minha, total, concordância com a sua descoberta! Concordo e explico-lhe por que razão!
Começa por dizer que o serviço que o Estado lhe prestou é abaixo de mau e justifica esse péssima qualidade com as greves (que pelos vistos para si não são de direito constitucional), com as faltas dos professores (porque pelos vistos para si, estes serão os únicos profissionais em Portugal que não o podem fazer), como se isto não bastasse,  acrescenta que houve também inconsistência pedagógica, humana e até relacional, mas não explica o que isso significa, ou pelo menos que significado quer dar a estes conceitos!
Infelizmente percebeu ao fim de 12 anos que a Escola Pública está doente, quando diz que  depressão é contagiosa, foi pena não ter percebido isso antes e, podendo, fugir dali para fora…faz lembrar aquele que depois de rapar o prato diz que estava péssimo! Não lhe fica bem, mas adiante!
Chegando à parte em que de facto mostra toda a sua sobranceria para com os professores, quero apenas dizer-lhe que é tão verdade não haver escola sem alunos como não haver escola sem professores!
Quero ainda acrescentar que quando diz “Bem sei que os professores acham que a sociedade os tratou mal e já não lhes reconhece o prestígio de antigamente, mas eles fizeram tudo por isso.” faz-me lembrar os discursos dos violadores quando se referem às vítimas e dizem: “elas provocam, põem-se a jeito, vestidas daquela maneira e depois queixam-se” sendo este um discurso que repúdio veementemente!
Rapidamente, ainda no mesmo parágrafo, continua com o ataque à classe, mas que põe a nu o enorme desconhecimento de causa “Andaram em más companhias, recusaram ser avaliados, jogaram guerras de poder e usaram o futuro das crianças como arma de arremesso. Quem assim faz arrisca-se a ficar no lado errado da história.”
Relativamente à avaliação, devia antes de escrever sobre o assunto informar-se bem e perceber que existe, nos moldes que são possíveis e com certeza melhorável, mas é falso dizer que os professores não são avaliados! Mas insiste, insiste porque é popular, insiste porque acha que hoje quanto se papagueia uma mentira ela torna-se verdade…só que não!
Quando refere que usámos o futuro das crianças como arma de arremesso, atacando novamente a constituição e o direito à greve nela inscrita, pergunto-lhe se acha o mesmo dos médicos ou enfermeiros que estão no momento em greve?
Não acha natural que classes profissionais que lidam com pessoas, ao fazerem greve é normal que os prejudicados sejam as pessoas! Já reparou que se os motoristas de matérias perigosas pararem são as pessoas que saem prejudicadas! Mas prefere falar em “crianças prejudicadas” para sensibilizar o seu público…percebo a intenção de alcance da mensagem mas não tolero desonestidade intelectual.
Não, não estamos do lado errado da história, do lado errado da história está a desonestidade com que todos os partidos do hemiciclo com a comunicação social a reboque  e uma mãozinha do Presidente da República, trataram toda uma classe! Esse é o lado errado! Uma vítima nunca pode ser considerada do lado errado!
Quanto ao referir-se à escola pública como sendo um pesadelo, até posso concordar, em parte, mas não pelas razões que apontou, mas sim, entre outras, por estas:
  • Indisciplina;
  • Turmas enormes;
  • Corpo docente desrespeitado nos seus mais basilares direitos (Carreira Docente);
  • Corpo docente envelhecido;
  • Flexibilidade (feito nos moldes em vigor);
  • Inclusão (nos moldes em vigor);
  • Escolaridade obrigatória e consequente baixar de fasquia;
  • Perceção dos alunos de que a meritocracia não existe e que os esforço é dispensável;
  • Pais e Encarregados de Educação que pensam como o José.
E podia acrescentar, mas prefiro dizer-lhe que mesmo nestas enormes dificuldades os professores conseguem…é verdade conseguiram que o seu filho e outros concluíssem o 12.º ano!
Sabe por que razão?
Porque para cada um de nós, professores, o que interessa é a qualidade do processo ensino-aprendizagem, é o aluno, é para ele que trabalhamos, é por eles que nos sacrificamos!
Mas não tenho dúvidas que se não estivermos “bem” no sentido de dignificados, se não formos respeitados socialmente, se não tivermos os nossos direitos reconhecidos, a tarefa torna-se penosa, faz-se, como se tem visto, mas penosamente!
Quando consegue, maliciosamente, dissociar o bem-estar dos professores da qualidade dos alunos , então, meu caro, concordo consigo “o burro é o senhor…”
Alberto Veronesi
Leiam a opinião de José Manuel Diogo

Há uma coisa que não se percebe no sistema de ensino público em Portugal. Porque é que os piores professores dão as piores notas e os piores alunos têm relativamente as melhores? Até que descobri que o burro sou eu. A resposta é muito simples: a melhor maneira de disfarçar a incompetência é a sobranceria.
Não gosto de falar na primeira pessoa, mas as dores que não se veem, o coração não as sente. Este ano um dos meus filhos cumpriu o serviço escolar obrigatório numa escola pública – não digo qual é porque não interessa, mas até tem fama de ser uma das melhores do país – e o resultado foi ao mesmo tempo desastroso e esclarecedor.
O nível do serviço que o Estado prestou ao meu filho e aos seus colegas foi abaixo de mau. Greves umas atrás das outras, faltas sucessivas dos professores, turmas gigantescas e, o mais grave de tudo, incompreensível inconsistência pedagógica, humana e relacional. Uma depressão contagiosa e coletiva que contamina tudo à sua volta.
Bem sei que os professores acham que a sociedade os tratou mal e já não lhes reconhece o prestígio de antigamente, mas eles fizeram tudo por isso. Andaram em más companhias, recusaram ser avaliados, jogaram guerras de poder e usaram o futuro das crianças como arma de arremesso. Quem assim faz arrisca-se a ficar no lado errado da história.
A escola pública é um pesadelo. Um sistema triste e decadente onde o medo e a incompetência crescem mais depressa que cogumelos.
Quando o essencial no sistema de ensino não é a qualidade dos alunos, mas o bem-estar dos professores, está tudo dito. Venha o Nogueira e escolha. Eu, porque posso, ponho-me a milhas, mas assim este país não vai a lado nenhum.
*Especialista em Media Intelligence
José Manuel Diogo

Fonte: JN

2 COMENTÁRIOS

  1. O texto acima está muito bem escrito e toca no essencial, mas não sei se os papás a quem se dirige o vão entender! Como diz o José, ele é o burro! Como burro que é, pensa que o filhote é sobredotado! Há quantos anos lidamos com criancinhas sobredotadas que a escola não entende! É um fenómeno já com algum tempo! Há inclusive colegas que enxergam isso em relação aos filhos dos outros e não em relação aos deles!

  2. Acho que há uma espécie de aforismo no texto que descreve na perfeição o autor, José Manuel Diogo, "a melhor maneira de disfarçar a incompetência é a sobranceria". Et voilá, como o seu trabalho de pesquisa sobre os professores, as suas dificuldades, o seu modelo de avaliação e os resultados dos nossos alunos em estudos internacionais como o PISA, é nulo, usa a sobranceria para falar de uma classe profissional que, apesar de todas as dificuldades continua a realizar um trabalho exemplar em muitas medidas, tendo em conta o ponto de partida (segundo a PORDATA, tínhamos um taxa de analfabetismo de 25,7%, em 1970, para 5,2% em 2011). Portanto, podemos concluir que o autor é "burro", mas não pelas razões que ele próprio evoca.

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