Como a aprendizagem se faz na relação professor-aluno, o equilíbrio emocional de ambos é muito importante para que o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz.
A Educação Positiva é já uma realidade e tenho vindo a colocá-la em prática como professora, coordenadora do programa de Promoção e Educação para a Saúde (PES), formadora de professores e investigadora em Educação.
Ao longo dos últimos anos, e em parceria com a restante comunidade educativa, desenvolvi uma metodologia própria, que começa por aplicar em mim mesma a Educação Positiva. Procuro ir para as aulas o mais motivada possível, pois faço questão de que a maneira como ensino faça os alunos gostarem do que aprendem. Também utilizo pontos fortes pessoais (como o entusiasmo, a paixão por ensinar, o afeto) enquanto fatores positivos profissionais para o estabelecimento de uma relação afetiva e cognitiva eficaz com os meus alunos. Incentivo-os, também, a colocarem as suas virtudes a seu favor, visando níveis superiores de realização, bem-estar e sucesso educativo.
Esforço-me por transmitir emoções positivas aos meus alunos e colegas, pois elas multiplicam-se num contágio positivo e amortecem os efeitos das emoções negativas. A esse propósito, posso destacar que utilizo algumas técnicas diferentes para manter os alunos mais calmos e sossegados. Invisto em ocupar alguns minutos da aula para que todos fechem os olhos e respirem conscientemente ao som de uma música relaxante, em vez de, por exemplo, elevar a voz. Por vezes também começo as aulas dessa forma e amiúde os alunos pedem-me para aplicar estas técnicas meditativas, pois reconhecem que as mesmas os fazem sentir mais calmos, concentrados e a aprenderem mais facilmente.
Desde há seis anos, enquanto coordenadora do PES, que trabalho numa equipa alargada que envolve as enfermeiras da saúde escolar, a Escola Segura e a Direção da Escola e tenho procurado, em rede, colocar a Educação Positiva em prática – através, por exemplo, do estabelecimento de um grupo de alunos voluntários. Esta estratégia tem efeito evidente na criação de um clima positivo de escola e no fortalecimento da pertença dos alunos à escola. Desta forma, consegui aproximar-me mais dos alunos, obviando comportamentos de risco e exponenciando momentos de saúde. O aumento do nível de bem-estar dos alunos tem sido visível na sua motivação, em inquéritos de satisfação e em registos de participação nas atividades. Outro exemplo foi a criação de uma sala “GPS – Bem-estar”, onde qualquer elemento da escola pode encontrar os recursos para se acalmar e encontrar o equilíbrio. Ainda, sempre que possível, são realizadas sessões de meditação às turmas da escola, professores e funcionários.
Todo o trabalho desenvolvido foi considerado inovador e levou a que a Direção-Geral de Educação concedesse à escola, pelo 2º biénio consecutivo, o galardão “Selo Escola Saudável – Nível avançado”, baseado em evidências apresentadas que comprovam que a escola promove, integra e assume, nas suas práticas quotidianas, a promoção da saúde e do bem-estar na comunidade educativa.
Em suma, ser professor também é intervir no bem-estar dos alunos através do seu próprio bem-estar e construir comunidades de apoio entre colegas, que permitam a partilha de estratégias eficazes para lidar com os desafios do dia-a-dia. Só assim teremos qualidade de ensino e eu luto para que, todos os dias, isso aconteça. Educar pela positiva é, assim, sabermos tirar o melhor de nós e o dos outros, assentando naquilo que realmente nos une e a todos engrandece: o humanismo e a vontade de sermos realmente felizes.
Docente no AE de Carcavelos. Finalista da 2ª edição do Global Teacher Prize Portugal.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.
Fonte: Observador