Dói quando constatamos que um professor é agredido e da Tutela apenas temos um silêncio ensurdecedor, dói quando assistimos ao nosso Primeiro-Ministro criar uma crise política fictícia, ao mesmo tempo que atira milhões para a banca ou permite que o vencimento de juízes seja superior ao seu. Faltou critério e honestidade intelectual para com os professores, para com os portugueses e isso não irei esquecer e não estou preparado para perdoar tão cedo.
Agora que o mandato está a terminar, é importante olhar para trás e ter a capacidade de ser imparcial e reconhecer que este Ministério da Educação também fez coisas boas e que merecem ser realçadas, tais como: o fim dos abusos nos contratos de associação; a maior liberdade e autonomia dada às escolas; a permeabilidade entre os cursos profissionais e ensino regular; a gratuitidade de quase todos os manuais escolares; a redução do número de alunos por turma; a valorização da cidadania; uma maior igualdade entre as disciplinas, acabando com o “monopólio” da Matemática e Português; a redução da norma travão; a regulação dos intervalos do 1º ciclo; a eliminação da PACC e da Bolsa de Recrutamento; etc.
A marca maior é naturalmente a flexibilização curricular e a inclusão. Boas ideias, com bons princípios, mas a sua aplicação careceu de pilares essenciais para um sucesso consensual. Faltou acreditar que esta reforma era a verdadeira reforma, pois não existiu um compromisso entre os diferentes partidos políticos. Faltou formação (apesar dos 19 milhões de euros investidos) transversal e prática sobre a aplicação da flexibilização e inclusão. Permanecem as carências graves ao nível das condições dadas aos professores para a sua implementação, nomeadamente a falta de horas para o trabalho colaborativo e a falta de condições ao nível das infraestruturas. Faltou demasiado para um objetivo tão ambicioso.
Passados 4 anos, assistimos a uma mutação vincada na educação, onde a memorização, os resultados, os exames eram a essência do ensino, para agora constatarmos um sucesso constante – os alunos podem estar em diferentes níveis de aprendizagem e, apesar da escala de avaliação contemplar as negativas, ao estarem em desenvolvimento não podem ter qualquer negativa. O que agora interessa são os processos, os testes tornaram-se mesmo persona non grata e o sucesso é aquilo que se quiser, apesar da chapada de realidade que continuam a ser os exames nacionais.
Caímos num extremo, onde as pressões para certificarmos a incompetência estão bem presentes, onde o insucesso do aluno (quando este não cumpre com os seus deveres) é desculpado pela incapacidade do professor de implementar diferentes estratégias. Um verdadeiro absurdo e um caminho extremamente perigoso e com graves custos a médio prazo. Como se costuma dizer, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O sucesso depende do professor, mas depende e muito do aluno e, já agora, do seu encarregado de educação.
E agora, que futuro para a Educação?
É imperativo afastar qualquer ideia de facilitismo. É imperativo assumir o problema da indisciplina escolar e dotar as escolas que precisem de horas para a implementação de equipas multidisciplinares. É imperativo reduzir de forma drástica a burocracia escolar. É imperativo alterar o modelo de gestão, dando maior democracia às escolas, até para evitar a contaminação da municipalização escolar. É imperativo colocar os professores no centro das políticas educativas, em parceria com os seus alunos. Os professores não podem continuar a ser desvalorizados social e financeiramente. Batemos no fundo!
Por fim, e não menos importante, um pedido para os principais sindicatos e futuro Ministério da Educação. Não tornem as lutas políticas em lutas pessoais. Percebam que o país real precisa de seriedade, honestidade e transparência nos argumentos. Estamos todos fartos de política, é urgente haver educação na Educação!
Alexandre Henriques
Pai, professor do 3.º ciclo e do ensino secundário e autor do blogue ComRegras.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.
Fonte: Observador