Os mais de 1,2 milhões de alunos dos 1.º ao 12.º anos de escolaridade estão, a partir desta quinta-feira, de regresso à escola para mais um ano lectivo que começa com novas regras por causa da pandemia de covid-19. Este “novo normal” ocorre entre receios e queixas de pais e professores.
Esta quinta-feira, 17 de Setembro, é o último dia estabelecido pelo Ministério da Educação (ME) para reiniciar as actividades lectivas presenciais.
Mais de 5.300 escolas públicas e cerca de mil privadas seguem, neste ano, um conjunto de regras definidas pelo ME e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) devido à pandemia de covid-19.
O uso de máscaras é agora obrigatório para todos os funcionários, incluindo professores, assim como para os alunos a partir do 2.º ciclo, e as escolas têm circuitos de circulação.
Os alunos estarão agrupados em “bolhas” e caberá aos serviços de saúde decidir o que fazer se surgirem casos positivos de covid-10, sendo que a opção deverá sempre passar por enviar para casa apenas o grupo que esteve em contacto com o doente.
O ensino à distância deverá ser sempre a última opção e as escolas só vão fechar em último recurso, como já anunciou o Governo.
“É tudo ao molho e fé em Deus”
O distanciamento físico de pelo menos um metro é outra das medidas a cumprir, nomeadamente nas salas de aula. Porém, a DGS reforçou que só terá que ser cumprido “sempre que for possível”, pelo que, na prática, não está a verificar-se na maioria dos estabelecimentos por falta de condições.
As crianças continuam, em muitos agrupamentos, a dividir carteira com um colega, não havendo divisórias entre elas. A situação preocupa os pais, sobretudo ao nível do 1º ciclo, onde os alunos não precisam de usar máscara na escola.
É “tudo ao molho e fé em Deus”, como desabafa ao ZAP uma encarregada de educação de uma criança que frequenta uma Escola Básica do 1º ciclo do Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira.
Esta mãe de uma criança do 4º ano não entende que se permitam salas de aulas com 30 crianças e que, depois, o futebol durante o recreio, num espaço ao ar livre, esteja proibido.
Já outros pais temem as consequências psicológicas de tantas restrições para os seus filhos.
Nalgumas escolas, os intervalos entre aulas são de apenas 5 minutos, o que muitos pais consideram absurdo.
Escola fechada com troncos de árvores em Barcelos
Em Barcelos, na EB1 de Bárrio, em Roriz, os pais dos alunos vedaram a entrada no estabelecimento com troncos de árvores, protestando contra o facto de existir uma turma mista que junta crianças dos 1º e 2º anos.
“Este ano é a primeira vez que há turmas mistas, não faz sentido nenhum sobretudo num ano como este de pandemia”, lamenta ao jornal O Minho a porta-voz do grupo de pais em protesto, Rosa Barbosa.
“O pior é que estamos num ano de covid-19 e estão 22 meninos fechados numa sala com uma outra sala completamente vazia”, acrescenta Rosa Barbosa.
“Não entendemos como há freguesias vizinhas que têm salas com seis, oito e dez meninos e em Roriz optaram por fechar uma sala num ano destes”, diz ainda esta mãe, notando que os alunos estão “separados com uma fita vermelha” na sala.
Falta de funcionários para garantir higienização
Outra das recomendações da DGS é a higienização frequente dos espaços, mas, para isso, alertam directores e sindicatos, faltam funcionários.
O ministro da Educação voltou a assegurar, esta semana, que o sistema está preparado para responder aos problemas, nomeadamente à falta de funcionários e docentes.
Tiago Brandão Rodrigues lembrou que há este ano mais 3.300 professores nas escolas, assim como mais 900 técnicos, desde psicólogos a terapeutas da fala.
Outro dos problemas prende-se com os trabalhadores que pertencem a grupos de risco, nomeadamente no caso dos professores que criticam não poder recorrer ao teletrabalho, sobrando-lhes apenas a baixa médica.
Tal como os restantes funcionários públicos, têm de meter baixa, recebendo o salário apenas durante os primeiros 30 dias. Depois, as faltas continuam a ser justificadas, mas deixam de receber.
Professores em greve pelo direito a não ir trabalhar
O novo ano lectivo é encarado com preocupação também pelos docentes com o Sindicato de Todos os Professores (STOP) a prolongar até esta sexta-feira uma greve para que os funcionários possam não ir trabalhar, caso considerem que não estão garantidas as condições de segurança.
A greve abrange “todos os trabalhadores docentes e não docentes, que exercem a sua actividade profissional no sector da Educação, da investigação científica e cultural e da formação profissional, que trabalhem por conta de outrem, em estabelecimentos públicos ou privados, a 18 de setembro de 2020”, lê-se no pré-aviso de greve.
O STOP também se queixa do que define como a “falta crónica de assistentes operacionais”, considerando que “se arrasta há vários anos (levando muitos à exaustão)”.
No actual contexto de pandemia, “com ainda mais tarefas para esses profissionais”, coloca-se “em risco a saúde de todos que trabalham e estudam nas escolas”, defende o o STOP em comunicado.
Para o sindicato, também é fundamental “a valorização destes profissionais da educação cada vez mais essenciais para a segurança e bem-estar” dos alunos e de todas as comunidades educativas.
O STOP pretende, assim, que todos os profissionais de educação integrados nos grupos de risco tenham direito ao teletrabalho ou a faltar de forma justificada.
A greve visa exigir ainda “uma significativa redução do número de alunos por turma”, para permitir “uma melhor qualidade de ensino, particularmente quando todos reconhecem que as aprendizagens de milhares de alunos foram severamente comprometidas no terceiro período”, na sequência da pandemia.
ZAP // Lusa