Ainda é cedo para saber como vão os alunos recuperar as aprendizagens perdidas durante a pandemia, mas já se sabe isto: os professores portaram-se bem durante o primeiro confinamento. “Os docentes fizeram um enorme esforço. No final do ano passado, dois terços deles reportaram nunca ter tido formação em ensino à distância. Isso mostra que foram rápidos a adaptar-se a uma realidade difícil para a qual não estavam treinados”, argumenta Pedro Freitas, investigador da Universidade Nova de Lisboa e parte da equipa que levou a cabo o estudo “Ensino e aprendizagem a distância em Portugal durante a pandemia de covid-19: diferenças entre escolas públicas e escolas privadas”, coordenado pelo Observatório Social da Fundação La Caixa.
Os dados mostram que os docentes diversificaram os métodos para chegar aos alunos e mantê-los interessados – e que essas estratégias foram sendo melhoradas com o decorrer da pandemia. Exemplo: em março e abril, só 22% dos professores das escolas públicas estavam a dar aulas através de videoconferência, e 89% no caso dos professores do privado. Ora, em maio, quando os investigadores voltaram a inquirir os docentes, a percentagem no ensino público tinha disparado para 63% (e 98% no privado). Outros indicadores subiram entre os dois períodos temporais. Um deles foi o recurso a conteúdos educativos preparados por terceiros (39% em março e abril no público e 51% no privado transformaram-se respetivamente em 51% e 67% em maio).
Outra ferramenta digital teve um crescimento acentuado: no início da pandemia em Portugal, só 9% dos professores nas escolas públicas reportaram criar e enviar vídeos educacionais aos alunos; em maio, essa percentagem era de 19%. No privado, a adesão a esta prática foi de 27%, primeiro, e de 46%, depois. “O ensino à distância tem técnicas muito próprias, e os professores mostraram que estavam a chegar aos alunos através de vários meios”, reforça Pedro Freitas ao Expresso. E avança outro número: 51% dos docentes garantiram que contactaram os alunos por telefone enquanto as escolas estiveram encerradas.
MENOS PROVAS ESCRITAS E POUCO ACESSO A COMPUTADORES
Os métodos de avaliação também sofreram uma mudança radical durante o primeiro confinamento: para atribuir as notas aos alunos, os professores passaram a basear-se mais nos trabalhos de casa e na participação nas aulas em vídeo, e menos nos testes escritos. Em março de 2020, 68% dos docentes no público utilizavam os trabalhos de casa como método de avaliação, e em maio eram já 85%. No privado, estes indicadores foram de 76% e 88%. Quanto à participação nas aulas, o aumento foi ainda mais acentuado: de 14% para 69% no ensino público, e de 42% para 83% no privado.
“Mas independentemente do esforço e da criatividade [dos professores], os danos estão lá: vários estudos noutros países mostram que houve sempre uma perda [nas aprendizagens adquiridas], portanto cá a regressão era inevitável”, avisa Pedro Freitas. Ora, esta regressão seria sempre maior nos alunos mais novos, sim, mas também nos alunos oriundos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos, e por isso com menos meios.
Os dados sustentam esta ideia: “A pandemia afetou de forma diferente as escolas públicas e as privadas, e levou ao aumento das desigualdades na educação”, lê-se no estudo do Observatório Social. Isto porque, contabilizando os relatos dos professores, concluiu-se que “os alunos de escolas públicas tinham pior acesso a computador e à internet”. Em março, 65% dos professores da escola pública garantiam que entre 10% a 50% dos seus alunos não tinham computador nem internet em casa – uma percentagem que nos privados era de 31%. Cerca de dois meses depois, ambos os indicadores desceram para 46% e 15% respetivamente.
“Nos inquéritos que fizemos detetámos uma maior prevalência no acesso a computadores no ensino privado”, diz Pedro Freitas, e o relatório explica: “Embora o acesso a computador e à internet tenha melhorado durante o confinamento, persistiram diferenças significativas entre as escolas públicas e privadas, que podem ser explicadas pelas desigualdades de rendimento já existentes antes do confinamento.” O investigador remata: “[Os dados] são um espelho do que já existia antes da pandemia”, resume.
O lado político desta história já é conhecido: em abril do ano passado, António Costa prometeu que o Estado iria dar um computador a cada aluno do ensino básico e secundário até ao início do ano letivo seguinte – ou seja, 1,2 milhões de computadores. Mas o Governo não cumpriu essa promessa: só em 16 de julho de 2020, no final do ano letivo 2019/2020, é que o Executivo autorizou a realização da despesa para a aquisição de meios digitais para as escolas, apontou recentemente um relatório do Tribunal de Contas sobre o ensino à distância durante a pandemia. No início deste ano letivo que agora terminou, o Governo já tinha aprovado uma despesa de 386 milhões de euros para comprar os tais 1,2 milhões “meios digitais”, mas em janeiro apenas uma percentagem de residual dos alunos tinha um computador nas mãos: a resposta do Ministério da Educação foi “tardia”, sentenciou o Tribunal de Contas.
ganda treta: só os professores de física-química, inglês e talvez todos os de geografia utilizavam já a classroom e outros afins da google para massacrar os alunos com grelhas e mais grelhas de testes e testinhos. todos os outros fazem aulas práticas de interação real na sala de aula.
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