Durante o 3.º período letivo, que termina na sexta-feira, alunos e professores estiveram em casa a tentar dar continuidade ao ensino, mas alguns alunos tiveram dificuldades em acompanhar as atividades ‘online’ e, do lado dos professores, cerca de 30% optou por não lecionar novos conteúdos, segundo um inquérito da Federação Nacional de Professores (Fenprof).
Para os presidentes da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) e da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), o próximo ano letivo será dedicado, em parte, à recuperação desses conteúdos e ao apoio aos alunos que ficaram para trás, mas seria importante que as próprias escolas pudessem organizar esse trabalho.
“O Ministério da Educação tem de confiar nas escolas e conceder-lhes a autonomia necessária para cada uma tomar as melhores decisões”, disse à Lusa o presidente da ANDE, Manuel Pereira, sublinhando que cada escola tem uma realidade diferente.
Manuel Pereira não considera que os últimos três meses, desde que as escolas encerraram, tenham sido perdidos, sublinhando que se abriu uma janela de oportunidade para desenvolver outras aprendizagens extracurriculares, mas admite que setembro será um mês de muito trabalho e que alguns alunos vão precisar de uma atenção especial.
“As escolas terem meios e recursos para poderem ajudar os alunos que de alguma forma foram prejudicados neste tempo, sim, concordo que é preciso isso. Mas voltamos ao mesmo problema, o Ministério raramente nos permite ter recursos além daqueles absolutamente necessários”, lamentou.
Segundo os resultados do mesmo inquérito da Fenprof, cerca de metade dos professores não tinha conseguido chegar a todos os alunos até meados de maio e, por isso, os jovens vão regressar às escolas com níveis de preparação muito diferentes.
Para o presidente da ANDAEP, as próprias escolas saberão como melhor atenuar essas diferenças, mas, para isso, o despacho normativo de Organização do Ano Letivo (OAL) deve prever um reforço do crédito horário atribuído, para que os agrupamentos possam, por exemplo, contratar mais professores para apoiar determinados alunos.
“O que eu peço ao Ministério é que reforce esse crédito horário para que, de facto, os nossos alunos possam ter ou coadjuvações, em contexto de sala de aula, ou apoios às disciplinas em que possam ter mais dificuldades. Acho que isso é essencial”, afirma Filinto Lima.
Manuel Pereira, da ANDE, não compreende que os alunos sejam obrigados a devolver os manuais escolares a partir do final do ano letivo, já que terão de recuperar muitos dos conteúdos no próximo ano, mas o presidente da ANDAEP considera que a medida não é problemática.
“Percebo a preocupação, mas há outros instrumentos de trabalho, que não os manuais, para dar matéria e os professores estão, cada vez mais, a recorrer ao digital. Não vejo aí um problema irresolúvel”, sublinhou.
Por outro lado, os dois representantes dos diretores escolares olham com apreensão e incerteza para o próximo ano letivo e concordam que o OAL deve prever diferentes cenários possíveis, para que as escolas não sejam novamente surpreendidas, mas Manuel Pereira sublinha que o regime atual, de ensino à distância, não é solução.
“A ideia que eu tenho é que é preciso pensar em dois cenários diferentes. Um seria, em setembro, retomarmos a escola normal, o que é, a esta distância, pouco provável. O outro é encontrar uma solução mista, assegurando algumas aulas presenciais”, explica o presidente da ANDE.
Com o 3.º período prestes a terminar, os dois representantes fazem um balanço genericamente positivo dos últimos três meses, considerando que, apesar das dificuldades e constrangimentos, o ensino à distância correu relativamente bem.
No entanto, Filinto Lima sublinha que este foi um “ensino de emergência” e a solução possível perante os constrangimentos impostos pela pandemia e Manuel Pereira descreve este período como “uma longa maratona, em que os últimos quilómetros estão a ser muito difíceis”.
Nestes últimos quilómetros, os professores ocupam-se agora com a avaliação final do ano letivo e segundo os diretores escolares também aqui os professores tiveram de se adaptar.
“No 3.º período, as escolas adaptaram os seus critérios a esta altura, a este constrangimento e seguramente que não deram tanta ponderação na avaliação final, por exemplo, aos testes escritos, que à distância são muito complicados, mas valorizaram outras áreas“, explica Filinto Lima.
MYCA // JMR
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Fonte: Notícias ao minuto