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Directores querem turmas mais pequenas e reapreciação de programas

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As medidas que mais professores e directores consideram importantes para fazer face às desigualdades de aprendizagem originadas pelo encerramento de escolas são turmas mais pequenas e reapreciação dos programas tendo em conta as aprendizagens essenciais.

Este é apenas um de vários dados que fazem parte do estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE), Educação em Tempo de Pandemia: problemas, respostas e desafios das escolas. Divulgado nesta quarta-feira, o documento pretendeu identificar “as principais dificuldades sentidas, as respostas dadas e os desafios enfrentados pelas escolas portuguesas durante a primeira fase de confinamento, iniciada em Março de 2020”.

“Estas duas medidas evocam mudanças que necessitam de uma regulamentação ao nível macro que permita às escolas implementá-las, no quadro da sua autonomia”, lê-se no documento no qual se explica que “a dimensão dos grupos/ turmas remete para os ambientes de aprendizagem” e “para regras securitárias a que a situação pandémica obrigou, mas também surge como desejo de uma mudança que proporcione a melhoria da qualidade das aprendizagens, criando mais proximidade e permitindo ao docente a utilização de metodologias diversificadas e a prática de um ensino mais individualizado”.

Já a reapreciação de programas, considerando as aprendizagens essenciais, “parece relacionar-se com a extensão dos programas e as inúmeras dificuldades para o seu total cumprimento, garantindo a qualidade das aprendizagens, que os docentes vêm apontando”, acrescentam os autores do estudo.

“A preocupação com o número de alunos por turma é a que surge mais recorrentemente nos comentários dos professores, em linha com as respostas dadas ao longo do questionário”, aponta o estudo. Tal aplica-se não só na perspectiva de ser preciso manter o ensino à distância, mas também no presencial: “Na perspectiva de ser necessário manter o ensino híbrido ou a distância, as turmas deveriam ter menos alunos para poderem utilizar estratégias mais adequadas à situação, nomeadamente em matéria de avaliação. Nas aulas presenciais o número de alunos devia ser inferior ao habitual para manter o distanciamento entre alunos e evitar a passagem para o ensino a distância, principalmente no primeiro ciclo”, lê-se.

A desigualdade como conclusão “mais grave”

Na sessão de apresentação do estudo, que foi enviado ao Ministério da Educação, a presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Emília Brederode Santos, salientou que aquele primeiro confinamento “foi um período único e irrepetível”, mas, apesar da “situação inédita e complicada”, fez um balanço “positivo”, considerando que, ainda assim, o sistema “conseguiu dar respostas extremamente rápidas”.

Não deixou, no entanto, de lançar alguns alertas. No texto que escreveu para o estudo, aponta como conclusão “mais grave” a de que, embora o “sistema educativo pareça conseguir ser menos desigual do que a sociedade em que se insere, sem um esforço deliberado de discriminação positiva das escolas de meios mais desfavorecidos, estas escolas continuarão a ser também as mais desfavorecidas, não só não compensando e aproximando, mas podendo mesmo agravar situações de desigualdade entre alunos”.

Nesse texto, a responsável também alerta, entre outros aspectos, que “o apoio tecnológico nas escolas é manifestamente insuficiente e dependente, em muitos casos, da disponibilidade e boa vontade do professor de Informática”, defendendo que “há que poder contratar técnicos (eventualmente em colaboração com as autarquias) e, a médio prazo, há que planear e promover a sua formação”. Salienta também que “as competências mediáticas de alunos e professores também se revelaram insatisfatórias”: “E se tanto uns como outros conseguiram proceder a uma autoformação acelerada para fazer face às necessidades, também se verificou que à formação dos professores faltaram conhecimentos mais aprofundados de métodos e técnicas de uso do digital e, sobretudo, uma reflexão sobre as questões educativas envolvidas. A vontade manifestada por directores e professores do reforço dessa formação é um bom sinal que não pode ser perdido”, lê-se.

Maria Emília Brederode Santos escreve ainda que “aos alunos e às famílias, as competências de literacia mediática mostraram-se por vezes quase criminosamente insuficientes (infracções à privacidade e segurança, falta de conhecimentos sobre o funcionamento dos media e sua fiabilidade, falta de pensamento crítico e de sentido da responsabilidade…) e a exigirem uma formação na qual deverá ser integrada a parte tecnológica e não o contrário”.

Para o estudo, foi feito um inquérito por questionário, em Julho de 2020, a directores e a professores com funções de coordenação, nas escolas públicas. No caso dos directores, obtiveram-se 592 respostas válidas, o que corresponde a uma taxa de amostragem de 63%. No caso dos professores, 4338 enviaram respostas válidas, o que corresponde a uma taxa de amostragem de 29%, e implica mais cautela na análise.

Público